Parecendo que não, os Menzingers andam nisto há catorze anos e já não são nenhuns novatos. Com o lançamento de After the Party em 2017, o grupo consolidou-se como uma das bandas mais vibrantes dentro de um movimento punk algo alternativo onde reinam uns The Gaslight Anthem. Apesar de na Europa continental ainda não terem o mesmo tamanho que, por exemplo, no Reino Unido ou nos Estados Unidos, os Menzingers acabaram por incluir duas datas ibéricas em nome próprio na pequena digressão que os trouxe finalmente de volta a este lado do Atlântico. Uma oportunidade rara de ver esta banda num ambiente de proximidade, fora da azáfama dos grandes festivais.
E a verdade é que mal entraram em palco, o calor foi instantâneo. “Tellin’ Lies” foi a faixa escolhida para o arranque e o que se observou foi um imediato caos tão característico de um concerto punk/rock: crowd surf, movimento, cerveja pelo ar e muito suor. Daí para a frente, foi um desfile de verdadeiros hinos: “Good Things”, “Thick as Thieves”, “Midwestern States”, “Burn After Writing”, “Lookers”, era só escolher, com o público a cantar todas as letras de fio a pavio e a plenos pulmões. Diga-se que a componente lírica é provavelmente o ponto mais forte deste grupo e quem ali estava sabia bem a mensagem em causa. Percebeu-se desde cedo que este é um daqueles casos em que não há barreiras entre palco e assistência e que a energia do público contagia a intensidade da banda, já de si bem alta.
Os norte-americanos mostravam-se absolutamente surpreendidos pela resposta e genuinamente felizes, questionando o porquê de terem demorado tanto tempo a estrear-se ao vivo em Madrid. Pelo meio, anunciavam ainda que o principal motivo de andarem afastados de digressões foi a gravação do novo disco de originais e que este já se encontra finalizado. Espera-se que seja lançado mais para o final do ano, mas o véu tinha necessariamente que ser levantado, com a banda a mostrar “The Freaks”, já numa aparente reta final que teve “After the Party” como auge.
Pensava-se que tinha sido o auge, mas a festa ainda não tinha acabado e o público queria mais. Quando os Menzingers regressam ao palco para o encore, deparam-se com um fervoroso coro a pedir “Sunday Morning”, faixa presente no EP de estreia. Visivelmente surpreendidos, rápido conferenciaram e Greg Barnett explica que não tinham essa música preparada e que provavelmente a iam arruinar. Ainda assim, os fãs não desarmaram e a banda atirou-se ao tema, ainda que a medo. Acabou por ser interpretada de forma exímia, para gáudio do público e deles próprios, visivelmente satisfeitos e eufóricos.
Com o entusiasmo cada vez mais estratosférico, houve ainda tempo para mais uma incursão ao passado impossível com “Casey” e “Gates”, ficando “In Remission” a completar uma hora e vinte de plena intensidade e constante energia. Um concerto que seguramente perdurará por muitos e bons anos na memória das 200 pessoas presentes.
Os Menzingers cantam a nostalgia de uma juventude que parece estar a desvanecer. Depois da festa, percebe-se que são a prova viva de que não há que ter receio em encarar essas memórias. No fundo, a idade é só um número.