
Na passada segunda-feira decorreu a primeira noite da conferência Keep It Simple, Make It Fast, evento dedicado ao mundo do DIY e do punk. Como evento português deste genéro, era quase impossível não referir os míticos Parkinsons, banda portuguesa oriunda de Coimbra que se aventurou por terras de sua majestade e onde vingou como nunca antes nenhuma banda lusa terá vingado, fazendo renascer o espirito punk num dos países que viu o estilo nascer. Como tal, esta primeira noite seria de certa forma dedicada à banda, com a mostra do documentário “A Long Way To Nowhere” de Caroline Richards, documentário este que conta a história da infame banda desde às suas primeiras conquistas em Inglaterra, às tours japonesas, e ao fim e renascimento da mesma, seguido de um concerto dos próprios Parkinsons. Diga-se de passagem que, ter o prazer de ver o documentário com a própria banda, partilhando risos e comentários num ambiente intimista criou deveras um momento especial entre eles e os fãs ali presentes, como que uma celebração conjunta do seu percurso musical.
Após a mostra e uma pequena pausa, é então momento de descer até ao Understage do Teatro Rivoli onde irá decorrer a actuação da banda. Desde o começo da actuação é possível sentir aquilo que fez os Parkinsons conquistar os seus fãs, a energia e presença em palco do quarteto é exemplo para qualquer banda, desde o underground mais desconhecido a bandas de estádio que lutam para fazer vibrar milhares de pessoas, para os Parkinsons é só mais um dia a fazer o que gostam, tocar a sua música. Apesar de a banda ser completamente contagiante, foi impossível não reparar que o público se encontrava um pouco acanhado, talvez por ser segunda-feira, talvez por causa das expectativas demasiado altas que um documentário com uma história tão rica como a dos Parkinsons deixa, de qualquer forma, isso não fez abrandar nem desanimar a banda, que a pouco e pouco ia convencendo o público a juntar-se ao palco e à festa. Chega a primeira música vinda do último trabalho da banda “Back to Life” de 2012 e começa a ver-se cada vez mais público contagiado pela insanidade saudável da banda, as invasões de Vitor Torpedo e Afonso Al Zheimer pelo público adentro, respectivamente o guitarrista e o vocalista do quarteto, são como que mergulhos no mar numa tentativa de agitar as águas, e começam a dar frutos. Começa-se a sentir o mosh, uma atmosfera húmida de suor de quem salta e dança ao ritmo da banda e perde-se a fronteira entre músicos e espectadores.
O público mas parece mais acordado, mas ainda não chega. Afonso volta a pedir a toda a gente que se chegue à frente e interaja com a actuação, coisa que acaba por conseguir com alguma picardia saudável e com algumas piadas em inglês, com o qual se desculpa dizendo não querer deixar de parte o público estrangeiro que também se encontrava na sala. A simbiose entre o público e a banda é cada vez maior, chega um par de maracas ao palco pela mão de duas fãs que faziam grande parte da festa acontecer, as invasões de palco tornam-se frequentes e a banda parece cada vez mais satisfeita. Após vários clássicos da época em que a banda estaria no seu “auge”, assim como músicas mais recentes desde a reunião da banda, chegamos ao ponto alto da actuação, a música “I'm so lonely” de “Back to Life” de 2012, cuja duração terá sido sem grande esforço mais de 10 minutos e onde se pode presenciar tudo aquilo que os Parkinsons são melhores a fazer, transmitir energia e levar o público ao rubro, como qualquer boa actuação de rock'n roll deve fazer. Havia público no palco, músicos fora dele, o refrão foi cantado em unissono e chegou até a haver uma luta amigável entre Afonso e um dos fotografos do evento. Neste momento o público já tinha perdido qualquer réstia de vergonha que possuia no inicio do espectaculo, o chão estava escorregadio de suor e os fãs lutavam pela fila da frente do concerto que acabou em grande. A banda despede-se assim após mostrar o que é verdadeiramente uma actuação de uma banda de punk, uma atitude e energia nem sempre fácil de explicar mas que toda a gente sente e que nos faz libertar de impulsos primitivos que guardamos para nós e que ficam à espera de momentos como este para virem ao de cima, houvesse mais oportunidades como esta.
Os concertos, mostras e workshops da Kismif continuam durante toda esta semana. A não perder.