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Tremor 2019 [9-13Abr] Texto + Fotos + Vídeo

30 de Abril, 2019 ReportagensMariana Vasconcelos

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Frankie Cosmos - Galeria Zé dos Bois, Lisboa [14Abr2019] Foto-reportagem

Sick Of It All - RCA Club, Lisboa [21Abr2019] Foto-reportagem
A contagem decrescente para retornar ao Tremor começara no último segundo da inacreditável edição de 2018 e, para os que viajaram até lá, já se reviam caras conhecidas na segurança do aeroporto: “Tremor?”, ouvia-se perguntar. E a resposta só poderia ser “Vamos todos!”.  O assistente de bordo confirmou, já dentro do avião, que dentro de duas horas se iria aterrar no paraíso e não havia como contrariar isso.

Neste caso, o paraíso tem como nome São Miguel, a ilha pontuada por lagoas e vulcões adormecidos e outros não tão adormecidos, lar do festival que é a expressão da procura por algo novo, algo para além do começo do oceano. A edição deste ano aconteceu entre 9 e 13 de Abril e contou com nomes como Bulimundo, Moon Duo, Colin Stetson, Jacco Gardner, entre muitos outros, mas o line-up do Tremor é mutável, como a própria ilha em que se insere, e conta com o Tremor-Na-Estufa - concertos secretos em vários locais da ilha - e o Tremor-Todo-Terreno - o concerto/performance que promete uma aproximação do público à ilha e à sua natureza - para agitar as coisas.

Esta ligação com a natureza é o primeiro cartão de visita do festival. As paisagens arrebatadoras e o constante fervilhar de vida levam o prémio de melhor recinto (mesmo que o clima não tenha dado tréguas) e a hospitalidade do povo açoriano proporciona uma sensação de conforto que não existe em mais nenhum festival. A restante riqueza reside na curadoria arrojada, sempre presente, e que toca vários campos artísticos, desde a música à fotografia e passando pela performance, no sentido de comunidade entre os artistas de fora e os locais e, sobretudo, no ambiente livre de marcas, bancas e brindes que mancham os festivais de grande dimensão. Não há zonas VIP, nem logotipos (pelo menos que incomodem), nem coroas. Há gente e música até onde a terra acaba e isso é, no mínimo, refrescante.

Esta edição contou com a mesma irreverência e capacidade de tirar o tapete de debaixo dos pés logo na sessão de abertura do festival, com a atuação de Ondamarela com a Escola de Música de Rabo de Peixe e a ASISM - Associação de Surdos da Ilha de São Miguel - que espalhou energia e poesia por todo o Teatro Micaelense e quebrou todas as barreiras físicas. O que toca na alma tem de chegar a todos e é de louvar a intenção da organização de possibilitar esta inclusão! No final, todos sabiam bater palmas em língua gestual. O dia contou ainda com a atuação eletrizante do saxofonista Colin Stetson.

No segundo dia do festival, o clima instável do Atlântico mostrou as suas garras e, se todos queriam acreditar que “aqui chove vinte minutos e depois para”, os planos não eram bem esses e a alteração do primeiro Tremor-Na-Estufa, graças ao corte de luz no Parque Terra Nostra, antevia muitos outros imprevistos ao longo da semana. Ainda assim, a festa seguiu e entre os concertos de Yin Yin, Grails e Fumaça Preta já se começava a sentir aquela admiração coletiva que só a boa música consegue provocar. Admiração que se prolongou, no dia seguinte, durante todo o concerto de Jacco Gardner, uma experiência 360º sem limites entre o palco e o espectador. Todos se puderam sentar confortavelmente e viajar pela atmosfera criada pela dupla holandesa. Não tão confortável foi a experiência lotada em Pop Dell’Arte e Cave, onde era impossível entrar.

9 a 11 de abril

A lotação das salas foi uma das dores de crescimento da edição deste ano e, ainda que o número de bilhetes vendidos não tenha aumentado, a distribuição do público parece ter sido bastante diferente, tornando a sexta-feira, dia de extensão do festival à Ribeira Grande, uma sucessão de filas, empurrões e multidões compactas que tornaram desconfortável ou totalmente impossível ver grande parte dos concertos. Era fácil encontrar os queixumes pelo ar e a festa esmoreceu. Ainda assim, é preciso elogiar a energia das performances deste dia que levaram o público numa viagem, desde a dureza do som de Cristóvão Ferreira + Tupperwear, pela sensual melancolia de Lafawndah até à ferocidade de Teto Preto.

Apesar desta diversidade, o momento alto do dia (e possivelmente do festival) foi o Tremor-Na-Estufa resultante da residência artística entre a dupla ZA! e os Despensas de Rabo de Peixe, que juntou a irreverência da banda espanhola à autenticidade do grupo tradicional e criou momentos não só de virtuosismo musical como de verdadeira comunhão, como se uma grande família se tivesse juntado para partilhar as castanholas. No final, toda a gente sorria e sacudia o rosto corado em busca de ar fresco. Tinha acontecido finalmente aquele momento de magia tão antecipado por todos. Afinal de contas, no fundo, todos gostamos é de bailar o pezinho.

O Tremor aproximava-se rapidamente do fim e o último dia foi acima de tudo de contrastes - entre a divertida doçura de Haley Heynderickx e a irreverência de Maria Beraldo, a energia contagiante de Bulimundo e a imersividade de Moon Duo. A beleza deste festival é mesmo esta riqueza artística que nos prova que há tanto valor na simplicidade de um ritmo africano ou numa guitarra solitária, como em synths e alter egos (apesar de, no fundo, todos sabermos o que chega mais depressa à alma). A noite fechou-se com o concerto dos ZA! que, pela segunda vez no festival, fizeram tremer as paredes e os corpos. Merecedora de uma nota muito positiva é também a performance do Instytut B61 – Interstellar SUGAR Center, uma agradável surpresa pelo seu humor e riqueza de experiências sensoriais (quem diria que as estrelas são tão saborosas) e que, ironicamente, proporcionou um dos melhores momentos musicais de todo o festival.

12 e 13 de abril

Mas não só de magia se fez este Tremor, e ainda que seja um pouco ingrato fazer comparações com a edição anterior, é inevitável estabelecer o paralelo. Além da grave aparente sobrelotação de alguns espaços, também a sobreposição dos concertos na Ribeira Grande criou algum mal-estar desnecessário. No entanto, foi em algumas escolhas de curadoria que esta edição fraquejou. Sentiu-se um claro desajuste entre o contexto e alguns artistas escolhidos e faltou muita da simplicidade e conexão com a natureza da edição passada. Uma experiência não ganha valor simplesmente porque traz música alternativa a uma paisagem bonita, pede-se que ambas se fundam e se acrescentem uma à outra, que se sinta o lugar, a ilha, que se possa respirar e ouvir os sons da paisagem a relacionarem-se com os artistas sem que neles se sinta o esforço de serem os mais diferentes. Faltou intimidade, acústicos e experiências mais corporais. É preciso manter em mente que o que difere o Tremor dos restantes festivais é a sua essência insular, são as pessoas de lá e não as de cá, e que a linha entre a experiência e a moda passageira é ténue mas está à vista de todos.

Contratempos à parte, o Tremor continua a galgar milhas à frente dos festivais a que estamos habituados e fica o desejo que, tal como a instabilidade da terra em que se enraíza ano após ano, também o festival cresça nessas agitações e que amadureça com a experiência. Finalizada mais uma edição, fica o cansaço que se cura nas águas quentes das termas e a curiosidade com o que aí vem.
por
em Reportagens
fotografia Mariana Vasconcelos


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