Somente seis meses após a passagem pelo NOS Primavera Sound, os norte-americanos Wand regressaram ao Porto, desta vez em nome próprio e em fase de promoção ao mais recente Plum, disco consideravelmente mais eclético e gravado em regime democrático, com todos os elementos a contribuir criativamente. Hoje um quinteto em vez do trio original, exibiram nesta fria noite de sexta-feira os frutos da sua evolução artística perante uma plateia bastante composta e que os recebeu de braços abertos.
Ao contrário de outros nomes da cena californiana – pense-se em Ty Segall ou Meatbodies – a fórmula dos Wand não se limita a uma poderosa descarga de riffs psicadélicos, havendo um saudável diálogo entre momentos de pura intensidade e uma calmaria sonhadora, quase pachorrenta. Esse lado mais melódico é evidente em temas recentes como “Plum” ou “Charles de Gaulle”, mas encontramo-lo igualmente na doçura de “Melted Rope”, memorável recordação de 2015 que era suposto colocar um ponto final neste regresso a terras portuenses, mas que felizmente acabou por não constituir a derradeira despedida que todos receávamos. No final, como resposta aos pedidos por um encore, o quinteto, visivelmente surpreendido, decidiu fazer a vontade e ofereceu uma feroz interpretação de “Fire on the Mountain”, numa fantástica explosão de energia garage rock.
Com esta passagem, os Wand protagonizaram uma viagem sonora que alternou entre a introspecção e a rebeldia rockeira juvenil, mas que se manteve constantemente interessante. Poderá haver bandas do género que os superem em palco, mas a atmosfera que instalam revela-se estranhamente encantadora, quase como se fossemos transportados para uma realidade à parte do mundo que habitamos, entrando a convite do grupo de Cory Hanson num deslumbrante universo decorado com riffs retro e melodias sedutoras. Foi bonito, lá isso foi.
A primeira parte foi assegurada pelo colectivo Sereias, frenéticos criadores de uma sonoridade onde a fúria do punk irreverente se cruza com a loucura do free jazz e uma aura poética. Todavia, pelos menos nesta fase, o conceito resulta melhor a nível teórico, já que a execução, ainda que ocasionalmente cativante, é pouco coesa e demasiado aleatória para o seu próprio bem.