Em fase de promoção ao mais recente You Are We – um dos mais aclamados lançamentos dentro da música pesada em 2017 - o grupo proporcionou a todos os que encheram a Sala 2 do Hard Club uma prestação verdadeiramente intensa e suada. Mal entraram em palco ao som do tema que dá nome ao último disco, o caos na plateia foi imediatamente instalado. Registou-se mosh, stage diving, crowd surfing e todas as possíveis manifestações de entusiasmo desenfreado que um concerto desta natureza pede, numa constante troca de energia entre banda e audiência.
Na verdade, essa união descreve na perfeição a relação desenvolvida com a sua fiel base de seguidores. You Are We foi editado de forma independente e alvo de uma bem-sucedida campanha de crowdfunding, e se muitas são as bandas que enfatizam frequentemente o papel crucial dos fãs, poucas são as que agradecem esse apoio e carinho como os While She Sleeps. Goste-se ou não da sonoridade que praticam - fortemente enraizada no metalcore mas com diversas referências ao nu-metal - é praticamente impossível não respeitar a dedicação à causa e o modo como cada concerto é visto como se fosse o último, numa verdadeira demonstração de amor à camisola.
Com um alinhamento focado no último disco, mas sem esquecer o passado, temas novos como “Steal the Sun”, “Empire of Silence” ou “Silence Speaks” coexistiram com outros mais antigos como “Four Walls” ou “Brainwashed”. Entre discursos inspiradores por parte do vocalista Lawrence Taylor e momentos inesquecíveis como o encerramento apoteótico com “Hurricane”, onde diversas pessoas subiram ao palco em clima de celebração eufórica – os While She Sleeps provaram que estão no período áureo da sua existência.
While She Sleeps
Se os cabeças de cartaz foram recebidos de forma calorosa, a reacção aos britânicos Rolo Tomassi foi consideravelmente mais fria, ainda que cordial. Prestes a lançar o quinto álbum de originais, intitulado Time Will Die and Love Will Bury It, o grupo estreou-se finalmente no nosso país depois do cancelamento do concerto no Plano B, corria o ano de 2010. Durante cerca de 40 minutos, a banda debitou poderosas malhas onde a agressividade e a melodia andaram de mãos dadas, num dinâmico cruzamento de estilos que tanto abraça a garra e a irreverência típica do post-hardcore como explora livremente estruturas imprevisíveis e complexas associadas ao mathcore. No que ao alinhamento diz respeito, ouviram-se duas composições que irão marcar presença no próximo disco – “ Rituals”, logo a abrir, e “Balancing The Dark” a encerrar – sendo que pelo meio recordaram-se temas como “Party Wounds” ou “Opalescent”. Uma atuação bem conseguida que simplesmente pecou pela falta de maior adesão e pela curta duração. Ainda assim, foi um enorme prazer testemunhar a força de um dos nomes mais criativos e inovadores no panorama de peso da última década.
Numa noite que contou ainda com o competente aquecimento dos algarvios Villain Outbreak, o saldo final é claramente positivo. Resta-nos esperar que haja quem continue a trazer cá este tipo de tours e que, acima de tudo, se verifique cada vez mais uma maior aposta na novidade de maneira a combater a estagnação na oferta de concertos.
Rolo Tomassi e Villain Outbreak