De Doorn (flamengo para “O Espinho”) é o sétimo álbum da banda de post-hardcore/post-metal belga Amenra e o primeiro cujo título não é uma iteração da fórmula “Mass [X]”. Neste álbum, o quinteto de Kortrijk — perdão, agora sexteto, já que este conta com a adição de Caro Tanghe, vocalista dos conterrâneos e companheiros de muitas andanças Oathbreaker — liderado por Colin H. van Eeckhout e Mathieu Vandekerckhove tenta, algo atabalhoadamente, enveredar por avenidas sonoras mais aventurosas, mas acaba por sair muito pouco do status quo que já estabeleceu com o seu já considerável catálogo.
Sob o risco de ser linchado, convenhamos que a música dos Amenra nunca foi propriamente das mais complexas ou criativas — nem tem que ser! O que pecam por falta de diversidade e sofisticação mais que compensam na intensidade e crueza emocional com que constroem e executam as suas músicas. A questão é que, ao fim de cinco álbuns de faixas que têm todas sensivelmente a mesma tonalidade, estrutura e tempo, é muito difícil não cair na monotonia e indiferença. (Ora bolas, custa muito escrever UMA música que não seja em Si menor?!)
O álbum abre com “Ogentroost”, que dos confins das catacumbas do seu ambient funéreo acaba por enveredar num simplíssimo motivo de guitarra constituído por duas notas apenas. O resto da banda acaba por se juntar, e Caro estreia os seus vocais serenos e serpenteantes. E talvez Caro tenha contribuído com muito mais que apenas os seus vocais, pois a diversidade rítmica que se segue faz lembrar mais Oathbreaker que propriamente Amenra. Como já é de praxe para os Amenra, aqui o desenvolvimento não passa tanto pela introdução de novos temas e riffs, mas pela repetição — às vezes ad nauseum — do mesmo material sob uma gama de dinâmicas e cadências diferentes. “De Dood In Bloei” é um breve interlúdio ambient que faz lembrar um inverno gélido com ventos de cortar osso. Aqui, Caro e Colin revezam-se a narrar algo que até é capaz de ter piada para quem entende flamengo — já mencionei que este é o primeiro álbum dos Amenra escrito exclusivamente em flamengo?
Segue-se “De Evenmens”, e, tal como “Ogentroost”, é constituído por um simples riff que dá lugar a um segundo tema que, bem vistas as coisas, não é mais que uma espécie de dilatação do tema anterior, servindo de acompanhamento para uma ansiosa e sôfrega narração por parte de Colin. Finalmente, a 2/3 da faixa temos um tema genuinamente novo, com os vocais limpos de Colin, quase urgentes, a impelir as guitarras em frente, antes de voltar a uma passada glacial, interrompida pelos cortantes e animalescos guturais combinados de Colin e Caro. Bem vistas as coisas, “Hat Gloren” é em muito semelhante à faixa anterior, tanto a nível de estrutura como de cadência. Após uma secção central pontuada por um escalar constante de acordes, a faixa envereda para o primeiro momento autenticamente climático do álbum, mais uma vez pontuada pelos screams amalgamados de Colin e Caro. A faixa final, “Voor Immer”, acaba por ser mais do mesmo.
Em suma, De Doorn é um álbum bastante… competente, mas que carece da dita crueza emocional dos seus antecessores. E na falta dessa crueza emocional, as faixas parecem todas um pouco simplórias. Aqui e ali há indícios de uns Amenra a saírem da casca e a tentarem coisas novas mas, infelizmente, parece que se limitam a molhar a pontinha do dedo grande na água do mar e não se comprometem ainda com o mergulho, o que, por vezes, torna as coisas francamente previsíveis. Mas Amenra é Amenra, e até na previsibilidade são um raro e confiável conforto.