A electrónica de Nature Morte encontra-se no gosto por sintetizadores, nas horas gastas em esculpir o som até o ok corroborado de André Miranda e Rodrigo Ferreira, a dupla que faz os Blanc Motif. Estes fazem-no entranhando a procura nas próprias composições. É com esse motor que se movem a uma velocidade frenética que nos lembra Aphex Twin e Squarepusher. Regra geral, a linguagem é cerebral e puxa a música para a frente, mas a qualquer momento podemos parar e apreciar uma sobreposição cuidada de elementos musicais, como as camadas de ruído estático e estridente que abrem “Lightless”.
Por vezes os Blanc Motif preparam-nos antes de apresentarem as suas peças mais
elaboradas. “To Perish”, arranca de um diálogo de pormenores no palco distante da música, numa imagem nocturna, onde se impõe um alarme, como um constante lembrete de que algo que está a acontecer, “Moirée” entra com um ritmo directo, quase dançável, antes de caminhar para um mar de sons ventosos.
A linguagem de Nature Morte é feita de variadas sílabas electrónicas. Ainda se dispersa um pouco por todo o lado, dispendiosa nos recursos e assim pouco concisa, mas tem a urgência de comunicar algo claro desde o início de “Forma Sombra”: com os seus kicks sincopados a prenderem-nos a atenção, e os seus pads que se vão lentamente erguendo até se suspenderem acima de nós.
O material que os Blanc Motif estão a preparar dir-nos-á se esta coesão foi conseguida. Até lá, temos 4 músicas de uma estreia auspiciosa.