Quando se começou a produzir sons enquanto ato de recriação, todo o conceito de “música” se restringia a uma ínfima componente monofónica, da qual gradualmente nos fomos emancipando de forma reacionária (não por conservadorismo, mas por necessidade). Daí nasce a sensibilidade melódica com que distinguimos a senda dos cantos gregorianos das acentuações de Paganini, entre as quais (e entretanto) diversas etapas cimentaram os degraus que nos permitiram ascender ao El Dorado da música moderna. Por cada pisada singular, uma nova perspetiva ao abordar a canção, seja a nível do som ou do método, sem que alguma vez nos seja retirada aquela sensação (ainda sem nome próprio) de nos deliciarmos com um disco.
Pedro Rios é a sombra por detrás das sombras criadas com Branches, expoente artístico do músico/produtor portuense, onde a espinha dorsal das suas obras se torna cada vez mais rija, consoantes as camadas que se lhe vão sobrepondo. Com 8 anos a navegar por entre guitarras em loop e teclas espaciais, Casa Nossa chega-nos quase como uma espécie de “Agenda da Década” (citando eu António Costa, Belém já não lhe escapa), com o culminar do projecto a solo mais comunitário de Portugal. Esvaziando a mente ao som de “Inspirar”, cerca de minuto e meio é o tempo que nos separa de uma realidade paralela (sem quaisquer ebriedades ou cenas do tipo), com a faixa de abertura a servir de “manequim” do disco desde o momento em que nos damos a imaginar as cores e formas de uma casa que também é nossa.
Quando a consistência de um disco perde o destaque para a sua essência, esboças “aquele” sorriso de quem quase se podia gabar, apenas o estar a ouvir. 28 mininutos de uma banda sonora demasiado boa para o ser, homemade por entre 4 íntimas paredes, onde o recurso a vários instrumentos inibiu os blocos de cimento em seu redor, como se cada cluster ou acorde lhe fosse concedida uma viagem económica ao Pacífico Sul.