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Destroyer - Poison Season

Destroyer  - Poison Season - 2015
Review
Destroyer Poison Season | 2015
Rui P. Andrade 08 de Setembro, 2015
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Dan Bejar até só recentemente pode ter chegado à casa dos 40, mas há já vinte anos que carrega uma crise de meia idade sob a bandeira duma tragicomédia chamada Destroyer. Pelo meio há colaborações com os The New Pornographers que remontam a Mass Romantic e que se espalham um pouco por toda a discografia do grupo, há o supergrupo de culto Swan Lake com Carey Mercer dos Frog Eyes e Spencer Krug dos Wolf Parade e Sunset Rubdown e há, obviamente, os nove discos como Destroyer que surgem a preceder este Poison Season. Se foi com os sublimes Rubies e Your Blues, em 2006 e 2004 respetivamente, que Bejar deu passos de afirmação marcantes como sendo um dos mais importantes cantautores dos nossos tempos, já Kaputt pode muito bem ser um dos melhores discos de uma década que ainda vai a meio. O álbum em que Bejar encontrou o balanço perfeito para o carácter críptico de Destroyer naquela nuvem maravilhosa de soft rock quase satírico e pop utópica; um porno na lavandaria da Stahl House, um sonho de verão e vinho verde em que nos queremos afogar vezes sem fim. Se foi efetivamente com Kaputt que vimos Bejar atirado para grandes palcos pelo mundo fora e para um mediatismo que até aí não tinha tido direito, a verdade é que desde então, e pondo de parte Five Spanish Songs, muito pouco se soube do canadiano de Vancouver. Poison Season surge quatro anos mais tarde como o sucessor cronológico a Kaputt; e cronológico apenas, porque apesar de termos a certeza de estar a ouvir um disco de Destroyer desde o primeiro aperto de mão, o homem por trás dele já há muito que mudou de fato.

Não interessa qual. Olhem para qualquer álbum na discografia de Destroyer e irão deparar-se com a mesma amalgama de conteúdos e referências comuns. Uma sucessão de poemas embriagados que parecem lupa desfocada para o coração e mente de Bejar. Os sindicatos como matrimónio, o (des)amor vestido a film noir, a mão cheia de rios e capitais europeias, a bizarrice dum quase romantismo pelo bélico e o nascer do sol como inimigo à noite e aos amantes: as referências são recorrentes na música de Bejar e assim não o é diferente em Poison Season. O próprio nascer do sol que vem assombrar Libby na faixa que encerra Trouble In Dreams parece ser o mesmo que persegue dois amantes em “Dream Lover”, single de avanço de Poison Season, numa fuga à Bonnie & Clyde orquestrada ao trotear dum beat e a um saxofone que troveja pela mistura inteira no que podia ser um hino épico de rock ébrio em jazz dos anos 70. Uma ideia só surge de forma mais frequente em Destroyer; a de que a música de Dan Bejar sempre esteve repleta de crónicas de raparigas e de cidades tristes. Histórias sobre raparigas tristes em cidades e de raparigas em cidades tristes, sem nunca termos bem a certeza de quem veio primeiro. “She despises the direction the city has been going in” – diz-nos Bejar no verso de abertura de “The River”, uma balada de piano rasgada a lampejos de sopros e dentes de guitarra. Quem é esta “ela” a quem o narrador aconselha em tom de salvação pessoal a deixar Los Angeles, Nova Iorque e Londres de seguida? Desde sempre existiu um tom burguês, trágico sim, mas não menos requintado inerente ao liricismo do canadiano. Descrições de casos perdidos e de uma névoa de miséria Hollywoodesca cor de vermute; a filha de um qualquer personagem encarnado por Woody Allen e de uma Taylor Swift de vestido de verão e narinas brancas. A “ela” de “The River” representa tudo isso, a donzela em apuros perante a maldade e tentações da metrópole moderna.

Há ao longo de todo este Poison Season uma presença orquestral bem marcada, uma aura bem menos polida com cordas um pouco por todo o lado a servir de suporte à voz e banda de Bejar e representando o que provavelmente melhor o vem distinguir da perfeição fantasista de Kaputt. Em “Girl in a Sling” a ideia de estarmos perante uma reencarnação mais rock e com uma roupagem bem viva e solta do grupo desaparece por instantes por trás duma cortina de veludo vermelha, para nos deixar entregues a um coro de violinos por onde serpenteia a voz de Bejar no que são alguns dos versos mais espaçados e inconsoláveis em todo o álbum. O mesmo acontece em “Time Square, Poison Season”, faixa que foi gravada como uma só mas partida em dois para marcar a abertura e fecho do disco, com um piano e os mesmos violinos distantes a servir de escolta à índole enigmática de Destroyer. A meio do alinhamento surge “Times Square” a juntar as duas partes com quem partilha metade do título, desta feita numa reinterpretação bem mais upbeat gravada a banda inteira e que é o espelho perfeito para o que representa Poison Season na aproximação ao que são os Destroyer num formato ao vivo. A própria “Archer on the Beach” surge aqui numa versão bem diferente da que consta no EP que lhe dá nome (em que aparece como uma colaboração com Tim Hecker ), vivendo agora num casulo que viajou quatro décadas no tempo e que deixa agora que se bata o pé ao passo da soberba linha de baixo que lhe percorre de início ao fim.

Contam-se pelos dedos músicos com o sentido lírico e de eufonia de Dan Bejar, na sua facilidade aparente para juntar as duas palavras mais triviais do mundo e fazê-las agigantarem-se ao tamanho duma ode inteira. O que é que há exatamente em “Solace’s Bride”, na maneira como Bejar pronuncia um sobrenome (?) e o estado de alguém perante o matrimónio, que nos faz pensar numa noiva a pôr à boca comprimidos de fluoxetina como se fossem rebuçados e a empurra-los garganta abaixo com Sauvignon Blanc? O fatalismo romântico é o vestido bordeaux com que a imaginamos vestida, um cadeirão de psiquiatra, uma supernova e uma taça de porcelana.

Ao chegarmos à pontinha final do disco encontramos por ventura o melhor de Poison Season em “Bangkok”. Imagine-se Bejar de microfone em punho num palco de chão de ébano, encostado a um piano de cauda e com um foco de luz branca a cair-lhe em cima. “Like you, I've been around the world, seen a million girls / I've seen Bangkok, I've seen Bangkok” – canta o canadiano desgrenhado para uma plateia endinheirada que vai lambendo os dedos sujos de lagosta. Antes ter-lhes-ia dito que aquela era sobre um tipo chamado Sunny e que esse pode até muito bem ser uma tipa. “Like you, I've been around the world, worn a million pearls / I've seen Bangkok, I've seen Bangkok” – prossegue Bejar enquanto encolhe os ombros num verso que ostenta tanto de esplendor como de desprezo pela banalidade que ficou para trás. Com o acelerar do piano na marca dos dois minutos vemos Bejar afastar-se do instrumento com um gesto firme, a deambular pelo palco a cruzar os pés à sua frente enquanto estala os dedos e guia a secção de sopros com o punho em figuras que só ele sabe o que querem dizer. Enquanto isso Sunny parece perder a cabeça e dançar à chuva sob a luz dos néon, e não interessa que não tenhamos a certeza se estará a chorar ou a perder-se numa gargalhada do timbre do saxofone que a acompanha; sentimos só que Sunny e Bejar terão encontrado finalmente a redenção para si mesmos, a sua voz e lugar algures, e está tudo bem que tenha levado tanto tempo.
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