Os nova-iorquinos DIIV regressam com o seu terceiro álbum de estúdio, Deceiver, follow-up de Is The Is Are, lançado em 2016. Desde o último LP que a banda sofreu algumas mudanças, começando com o vocalista do grupo, Zachary Cole Smith, que entrou em reabilitação para tratamento da sua toxicodependência, e com a expulsão do baixista, Devin Ruben Perez, após a revelação de conteúdo controverso publicado pelo ex-membro da banda.
Deceiver é um novo começo para o grupo, a primeira obra na qual todos se encontravam sóbrios durante a gravação, e isso é notório ao nível de produção do LP; os temas estão mais nítidos. Típico da banda, a guitarra continua como prioridade nas músicas, mas desta vez os riffs estão muito mais claros e menos crus, os vocais passaram a ser integrantes e não apenas barulho de fundo, como acontece no álbum anterior.
O álbum abre com o tema “Horsehead”, que nos faz embarcar numa jornada de sons mais suaves e devaneadores, porém sombrios, comparado com obras anteriores. Esta mudança de som já tinha sido demonstrada nos singles lançados antes da estreia do álbum, que no início surgiram como choque, mas que a coesão e coerência com o resto do disco transformaram em algo muito mais agradável e que demonstra um bom trabalho por parte da banda. Para além disso, cimentam a mudança para um shoegaze misturado com grunge, melodias que relembram os Nirvana, banda que foi inspiração de Zachary Cole durante a sua juventude.
Apesar da mudança, as faixas ainda têm a singularidade e distinção típica dos DIIV; letras simples, porém cheias de emoção, que relatam experiências pessoais. O álbum atinge o clímax com “Skin Games”, tema que relata uma conversa entre dois toxicodependentes em tratamento, traduzindo a influência que a reabilitação de Zachary Cole teve na escrita e produção de Deceiver. Entre melodias sonhadoras, leves e dançantes, escondem-se letras obscuras e cheias de tristeza, cujo interesse das suas adaptações ao vivo é esperado, visto DIIV normalmente apresentarem uma certa energia diferente em palco.
Quando chegamos a meio do LP, perdemo-nos um pouco entre os temas “Between The Tides” e “For The Guilty”, que não se destacam neste álbum. No entanto, a energia de “Spark” traz de volta o vigor inicial do álbum, reanimando-o. Já no final percebe-se um reminiscente da energia raw, marcada nos primeiros álbuns dos DIIV, que se revela em faixas cheias de guitarras, demonstrando a química entre os dois guitarristas da banda e como eles se complementam.
As últimas duas faixas são o crème de la crème do disco. “Blankenship”, que foi lançada como single e gerou grandes expectativas, devido à mistura de shoegaze com o antigo post-punk pelo qual a banda ficou conhecida. Um dos poucos temas cheios de energia, é a música de destaque do álbum. Por fim, “Acheron”, faixa que encerra o LP e que representa bem este disco. Sendo a mais longa, com sete minutos de som, materializa-se como uma jornada triste e longa que paulatinamente culmina num momento de êxtase e energia.
Este disco facilmente ultrapassou as expectativas existentes para o trabalho da banda. As faixas traduzem as emoções do grupo e as típicas transcendências de espírito para onde o post-punk e o shoegaze nos levam. Deceiver é uma obra complexa e bem estruturada que demonstra o crescimento e amadurecimento tanto da banda como um todo, como de cada membro individualmente. As faixas parecem mais polidas e aperfeiçoadas, trabalho que pode ser atribuído à colaboração com o produtor Sonny Diperri. Com certeza o melhor disco de DIIV até agora, com provável presença num Top de Melhores do Ano.