Não há muito que se saiba acerca de Elizabeth Colour Wheel. A banda é oriunda de Massachusetts, tem um plantel experiente, muito pouco material divulgado e em março lançam o seu primeiro disco de originais pela The Flenser. No que toca ao som, é redundante enquadrá-los no espectro do shoegaze, pois ECW é muito mais do que isso. Na sua clara afluência de noise rock e alt-rock, o quinteto respira tanto ou mais outras pitadas de doom, black e até mesmo punk. O resultado final é uma lufada de ar fresco com guitarras voluptuosas e uma moldura melancólica e triunfal. O elemento que parece “gritar” com mais destaque (no pun intended), é a vocalista Lane Shi, que fora da banda persegue uma carreira como performer vocal e artista audiovisual. É estranha a combinação entre uma banda de rock com uma artista vocal com o curriculum mais do que carimbado pelo mundo fora. O resultado é brilhante.
O disco chama-se Nocebo. Certamente que todos estão familiarizados com o efeito placebo. Droga inerte que traz benefícios se a crença do seu efeito for positiva. Neste caso, o efeito Nocebo é quando a descrença e expectativa negativa de uma droga inerte resulta em efeitos negativos. A expressão disso em som resulta numa combinação intransigente de melancolia, quietude, trauma e catarse sofrida. Certamente que a produção do senhor Seth Manchester na Machine With Magnets (Daughters, The Body, Battles) será motivo para não falhar a viagem de sensações que Nocebo tem para oferecer.
Existe uma dualidade intrínseca de emoções, onde a lentidão e introspeção prevalecem lado a lado com melancolia e promessa. Nos momentos de melodia cativam-se flashbacks com uma aura de 90s, frequentemente a lembrar The Smashing Pumpkins e Sonic Youth. Em qualquer das contribuições, sente-se o descomunal talento de Lane, onde tanto por influência do canto chinês ou até mesmo o opressivo entoar do jazz/gospel dos anos 50, se vê a cantora a sobrevoar em relação ao resto.
O perfeito exemplo de fusão cultural recai na faixa de abertura, “Pink Palm”, que define o prumo para o resto do álbum. A harmonia da faixa emaranha com os contrastes das guitarras pesadas e das secções cristalinas, muito à semelhança das transições rítmicas que ficam a definir moods e o panorama emotivo geral. A faixa ganha um embalar mais punk nos últimos trechos e acelera de forma épica e totalmente inesperada. Mas é a faixa que segue mais à frente, “23”, que ganha o troféu do registo. Inspira-se num antro existencial, onde as guitarras, o baixo e toda a combinação sonora transparece como um paredão de som sedoso e texturado. As letras ressoam com uma tonalidade vibrante e devaneadora. Ouve-se:
“Drink, laugh, repeat / Drink, expose everything / Weep / Wake up light a cigarette / Restart all over / It's all over”
Podemos chamar a “Life of a Flower” uma balada de sensações, onde o spoken word ensanguentado hesita com cada sílaba ao ritmo do latejar das cordas. Passando para “Hide Behind (Emmett's Song)”, a faixa mais longa e diversificada do álbum, que dá um pouco de tudo ao ouvinte. Vê-se um arranque inconfundivelmente hardcore/punk e um refrão arrebatador, que eventualmente chega a uma paragem mais contida e se desenvolve numa compressão de doom e downtempo. A acoplar com a faixa seguinte, “Bedrest”, ouve-se um loop de cordas para embalar após este rollercoaster de emoções. Inesquecível.
Os Elizabeth Colour Wheel podem ainda não ser muito conhecidos nem falados, mas a sua tomada de alt-rock levado a cabo pelas imersivas camadas de doom e atmosfera shoegaziana elevam o tremendo vozeirão de Lane a alturas com poucos paralelos. Não bastando, a banda toda combina num culminar de ideias rejuvenescidas, inspiradoras e refrescantes. Tal como “23”: quanto mais se ouve, mais se quer repetir. Quando o álbum todo causa esse efeito, é sinal evidente da sua qualidade. Esta é uma estreia que pode muito bem ser um breakthrough para o grupo.