Os Foxygen, desde a primeira vez que os ouvi, uns meses antes do lançamento de We Are the 21st Century Ambassadors of Peace & Magic, sempre que me pareceram uma banda diferente, controversa, distorcida de alguma forma. Se nesse álbum, a primeira parte de uma espécie de duplo álbum, aparecem sólidos e com ideias mais delimitadas. Neste …And Star Power, um irmão bastardo, estão bem visíveis os problemas pelos quais a banda passou num passado mais recente, desde o cancelamento de uma tour a cenas menos bonitas entre Sam France e membros do público, por exemplo.
Adoro a forma como incorporam várias influências de artistas - como Beatles, em “Brooklyn Police Station” ou em “Cosmic Vibrations”, ou ainda Lou Reed em “Cold Winter/Freedom” ou Rolling Stones em “Can’t Contextualize My Mind” - nas suas músicas sem que estas pareçam antigas. É uma coisa que não muitas bandas conseguem fazer. Também é de realçar a capacidade da banda em introduzir muitos outros instrumentos, alguns quase impercetíveis, sobretudo na segunda metade do álbum, onde se nota mais facilmente as influências de Noise, ou ainda a introdução de gravações, por vezes perturbadoras. Por exemplo, em “Cold Winter/Freedom”, de crianças a murmurar sobre… nem sei dizer sobre o quê, seguidas uma espécie de Drone. Acho que tudo isso acrescenta dimensão ao álbum e torna-o bastante ambicioso. Ou “I Don’t Have Anything/The Gate” e “The Game” que têm bastantes influências de Pop Psicadélico, fazendo-me lembrar o Love de Amen Dunes – um excelente álbum deste ano – em que a música é basicamente à volta de uma voz a murmurar. Ou “Coulda Been My Love” em que a guitarra está simplesmente a vaguear com um baixo que assume o controlo enquanto o Sam canta sobre quem toma as rédeas numa relação.
Outra das minhas favoritas aqui é claramente a “Star Power III: What Are We Good For”. Começa com uma intro muito mexida, depois uma gravação de Kevin Barnes dos Of Montreal e continua num refrão com o baixo extremamente preponderante e as back up voices. A irregularidade, a estrutura da música e aquele solo todo distorcido no final, a convergir na “Ooh Ooh” assenta na perfeição.
No cômputo geral, …And Star Power é um álbum em que é bem percetível que algo ali “não está bem”. O que não é necessariamente mau, bem pelo contrário. Adoro a falta de regras deste álbum. Adoro a luxúria, a classe, a loucura. Nalguns momentos, quase que consigo imaginar a banda num backstage todo requintado e decorado, a mandar ácidos e sabe-se lá mais o quê. É esta combinação que torna o álbum tão apelativo. Nalgumas músicas, loucura pura, noutras, alguma timidez e requinte.