James Blake está de volta. Após dois álbuns de sucesso e experimentação dentro do estilo R&B, colaborações com artistas de renome e 3 anos muitos discretos da sua carreira, Blake decide lançar The Colour In Anything, um álbum constituído por 17 faixas e com uma duração de 76 minutos. Será este o projeto mais ambicioso do artista? Bem, não exatamente.
Este disco, apesar da sua duração, até é bastante modesto e fiel ao estilo já conhecido dos seus trabalhos anteriores, por exemplo no seu homónimo de 2011 e de Overgrown lançado em 2013. As composições abstratas e a voz vulnerável continuam presentes. O que destaca este álbum em relação aos anteriores é a sua própria estrutura. É-nos apresentado um conjunto de músicas que transitam de uma para outra sem qualquer elemento de ligação, uma compilação de ideias soltas e, sinceramente, isso agrada-me. Toda esta fragmentação e entropia musical acrescenta alguma paranoia e ecleticismo à personalidade do produtor britânico. Enquanto nos registos anteriores tivemos um James Blake que apostava imenso na sua produção e nos ritmos, neste temos uma maior exploração de melodias e um vocalista destemido a demonstrar do que é capaz, sem se preocupar tanto com estrutura e ambiente. Resultado? O melhor disco de Blake.
The Colour In Anything apresenta-nos canções extremamente emotivas, como “Radio Silence”, “Choose Me”, “My Willing Heart”, “I Need A Forest Fire” (com Bon Iver), “Always”, assim como faixas completamente bizarras como “Points”, “Two Men Down” e “I Hope My Life”. Mas a estrutura de uma boa música pop não é sacrificada neste álbum, como é demonstrado em “Put That Away And Talk To Me”, com a repetição constante do verso que intitula a própria faixa, que simplesmente fica no ouvido (o que pode ser terrível para quem não gostar da música de James e/ou do disco).
Os ritmos são bastante simples, provavelmente influenciados por hip hop, até porque Kanye West tentou contribuir com instrumentais na faixa “Timeless”, mas sem sucesso. Contudo, as melodias são a essência do álbum. James Blake, para além de fazer um excelente trabalho no piano, também, desta vez, canta apaixonadamente e com alguma energia, sendo Frank Ocean uma das principais influências. Sintetizadores e samples de vocais também são elementos importantíssimos, desde latidos acompanhados por sintetizadores e instrumentos de sopro que vão agravando o clímax da “Two Men Down”, baladas de piano como na faixa-título, recorrência a feedback (ou o que quer que aquilo seja) nas faixas “Points” e “Timeless”, a modulação vocal na “Meet You In The Maze”, etc. Os conteúdos líricos são os do costume, contudo. Apesar destes serem muitas vezes abstratos, claramente abordam temas como o amor e a insegurança. Este disco consegue ter momentos de pura tristeza e outros de elevação espiritual que nem sempre é comum encontrar dentro do género R&B e os vocais de Blake reforçam essas qualidades, com uma voz genuína e aperfeiçoada.
No geral, The Colour In Anything é um disco imprevisível, mas agradável. Não é acessível e até pode desafiar os mais dedicados fãs, todavia, certamente irá agradar a muitos outros. Não é o disco mais inovador dentro do género, nem o mais emotivo, mas é uma boa junção de ambas qualidades, com excelente produção e exploração de sonoridades que só podia vir da mente de James Blake: uma experiência musical confusa e caótica para quem espera um fim claro e relaxante.