5
TER
6
QUA
7
QUI
8
SEX
9
SAB
10
DOM
11
SEG
12
TER
13
QUA
14
QUI
15
SEX
16
SAB
17
DOM
18
SEG
19
TER
20
QUA
21
QUI
22
SEX
23
SAB
24
DOM
25
SEG
26
TER
27
QUA
28
QUI
29
SEX
30
SAB
31
DOM
1
DOM
2
SEG
3
TER
4
QUA
5
QUI

LCD Soundsystem - American Dream

LCD Soundsystem - American Dream - 2017
Review
LCD Soundsystem American Dream | 2017
Paulo André Cecílio 23 de Outubro, 2017
Partilhar no Facebook Partilhar no Google+ Partilhar no Twitter Partilhar no Tumblr

Beck - Colors

Arcade Fire - Everything Now

Filho da puta. Grandessíssimo filho da puta. Gigantesco, rafeiro e colossal filho da puta. Filho de trinta mil sacas de putas. Avalanche de puta descendo o Monte Evereste. Crème brûlée de puta servido em restaurantes de puta em zona chique, merecedores de quatro ou cinco estrelas no Putadvisor por parte de yuppies na casa dos vintes, que não seriam capazes de soletrar “gentrificação” nem que a puta da palavra estivesse num dicionário à sua frente. Filho, filho, filho da puta, repito, num cântico futebolístico que mais parece arrancado às gargantas de 50 mil ou mais pessoas todas elas filhas da puta. És um filho da puta, James Murphy.

E nem sequer sou eu que o digo. Ou nem sequer sou eu que o digo apenas. Está nas entrelinhas de muitos dos entrevistados em Meet Me In The Bathroom, livro de Lizzy Goddman sobre a cena nova-iorquina de viragem do milénio, por entre elogios à qualidade dos Strokes e histórias funestas sobre o acabar da tua relação com o Tim Goldsworthy. És um filho da puta, James Murphy. A cunt, como é lido a dada altura. O pessoal respeita-te, mas és um filho da puta. Um gordo, velho, obcecado, arrogante, vingativo filho da puta.

Mas és um filho da puta especificamente por aquele concerto no Madison Square Garden, o concerto a que todos nós, fãs de LCD Soundsystem, gente que tanto chorou e dançou e cantou a “All My Friends”, gostaríamos de ter ido. Gente que sentiu a dor e a saudade por uma Nova Iorque imaginada, uma Nova Iorque na qual nunca metemos os pés, quando ouvimos pela primeira vez “New York, I Love You But You're Bringing Me Down”. Gente que se riu às gargalhadas com “Losing My Edge” e que depois foi aos Soulseeks desta vida procurar todas as bandas que havias mencionado do alto do teu conhecimento nerdy. Gente que acha Sound Of Silver o momento-chave da década passada. Gente que quanto te viu naquele Super Bock Super Rock em 2007 achou estar na presença de algo muito maior do que a nossa vida alguma vez poderia ser.

Pois é, filho da puta: nós gostávamos de ter lá estado porque te amávamos e amávamos o que fazias e tu despediste-te sem mais nem menos. Mas era um engodo. Um engodo igual ao de tantas outras merdas plastificadas que nos entram pelas caixas de correio e pelas redes sociais e pelos jornais e pelos blogues e pelas webzines e pelos TMZs adentro. Era o último concerto porque querias que esgotasse. Melhor, porque a promotora queria que esgotasse. Mas tu nem sequer conseguiste confiar nos teus próprios fãs, filho da puta – é claro que um concerto na cidade que te viu nascer e num sítio tão mitificado quanto o é o Madison Square Garden iria esgotar. Não importa. Era o último e nós chorámos e despedimo-nos daquilo que foi um sonho lindo. Para depois nos cagares na boca e anunciares o regresso como se nada se tivesse passado.

És um filho da puta, porque no segundo a seguir a acabares uma relação duradoura connosco já estavas com a piça dentro de outra puta qualquer, e isso dói de uma maneira estrondosa. És um filho da puta porque achas que agora é que vais ser feliz depois de o teres sido. Ou, então, era só fachada; o fumo cobrindo o espelho. És um filho da puta porque te transformaste exactamente no cliché roqueiro contra o qual pronunciavas impróprios durante os teus primeiros tempos na DFA. Porque não deixaste que uma coisa tão bela pudesse morrer de forma épica. Porque preferiste colocá-la numa espécie de estado vegetativo e depois recuperá-la como a um zombie ou a um monstro de Frankenstein moderno.

Mas és, sobretudo, um filho da puta porque és um génio e tens sempre razão.

És um filho da puta porque mesmo com todo o ódio que te deixamos e iremos continuar a deixar (não te irás safar desta tão depressa, ou até mesmo nunca) tu decides ser vingativo (lá está) e cumprir a tua palavra: a de fazer um disco que fosse ainda melhor que todos os anteriores. Melhor que o homónimo, repleto de pérolas como “Daft Punk Is Playing At My House” ou “Tribulations”. Melhor que “Beat Connection” ou “Yeah”. Melhor que Sound Of Silver e que o mal-amado This Is Happening. És um filho da puta por lançar American Dream e obrigares-nos a colocar o nosso ódio de parte para, de dentes rangendo e testa vermelha, termos de dizer que o disco é monstruoso do início ao fim. É como se nunca te tivesses ido embora, o que não é a melhor das coisas para se dizer sobre alguém que nos traiu com tamanha indiferença.

És um filho da puta porque continuas a fazer-nos sonhar com essa América distante e hoje em dia distópica, onde um filho da puta ainda maior e mais vingativo que tu tomou de assalto a Casa Branca. Porque recuperaste, no meio do lodo e do vómito, o sonho americano que entusiasma qualquer puto com antenas sintonizadas na cultura pop. Standing on the shore, facing west. Mesmo o teu escarro final no Goldsworthy – que é ao mesmo tempo a melhor malha do disco e certamente uma das grandes deste ano pós-depressão –, que em situações normais seria visto como uma filha da putice, é soberbo. E dá-nos vontade de o adaptar e fazer-te provar do teu próprio veneno. One step forward, six steps back.

É, roubaste essa aos Gang Of Four mas é também o que vais ter de fazer em diante: correr para a frente sabendo de antemão que irás ser sempre puxado para trás, provavelmente por cada vez menos pessoas, entre as quais a geração de millenials que não tinha idade para ir ver-te ao vivo antes daquele pseudo-fim mas que agora molha a cueca com o recuperar dessa possibilidade. Vais ter de correr tanto, meu filho da puta gordo. Mas és um génio. Isso deverá ser canja. Quando “Other Voices”, aquele tema completamente chapado aos Talking Heads, desagua tão bem em “I Used To” (olha outra que poderíamos tão bem atirar-te à cara: So where'd you go? / You led me far away / And let me go), não pode ser senão canja. Quando “Tonite” nos força a dançar e “Call The Police” nos obriga a levantar os braços de felicidade só tem que ser canja.

Tu fazes isto parecer tão fácil, filho da puta.

Bem-vindo de volta.
por
em Reviews


LCD Soundsystem - American Dream
Queres receber novidades?
Comentários
Contactos
WAV | 2023
Facebook WAV Twitter WAV Youtube WAV Flickr WAV RSS WAV
SSL
Wildcard SSL Certificates
Queres receber novidades?