Apesar de chegar a meio da segunda década do século XXI, Compassion encaixar-se-ia perfeitamente no leque de álbuns característos do new-wave de Manchester dos anos 80. A banda do sueco Hannes Norrvide volta agora com um estilo um pouco diferente mas, no geral, bem conseguido, dois anos após o lançamento de International, um álbum puramente eletrónico que agradou às críticas. Compassion surge como a concretização de alguns detalhes que pareciam estar em crescimento desde a primeira aparição de Lust For Youth. Para além dos sintetizadores em primeiro plano, como sempre foram apresentados, também as vozes surgem mais cuidadas e preponderantes.
Aos primeiros segundos de "Stardom", a faixa de abertura do álbum, somos invadidos por um ritmo contagiante que nos leva, inevitavelmente, a reparar em algumas parecenças com Depeche Mode ou até New Order, quase como se estas bandas tivessem surgido na era de tecnologia em que vivemos e fossem levadas por samplers e pela magia que estas caixinhas de música produzem, ao reproduzir e repetir ritmos e sons, vezes e vezes sem conta. Algo na voz de Norrvide leva à comparação com a voz de David Gahan, o que contribui também para a ligação feita com a banda inglesa responsável pela ‘’Personal Jesus’’ que todos conhecem. Seguimos o mesmo caminho por "Limerence", cujo significado do título é algo como um estado de espírito em que a afeição que se sente por uma pessoa é tão grande que pode ter consequências não benéficas (quando Norrvide canta, entre outras coisas, ‘’All eyes on her’’ podemos concluir que o conteúdo da música encaixa de forma perfeita com o título da mesma).
Um dos pontos mais altos deste longa-duração é, na minha opinião, "Easy Window", uma faixa que quase funciona como um interlúdio (um interlúdio tremendamente bem feito). Pondo isto em termos práticos, se todo o álbum fosse passado numa noite dos anos 80 na Haçienda, esta seria a música perfeita para, depois de bons momentos de dança, um pequeno momento de descanso para repôr energias sem perder a qualidade da banda sonora. Depois de carregar as baterias, "Sudden Ambitions" responsabiliza-se por uma entrada em grande. "Better Looking Brother", o single do álbum, é uma boa música que explora mais o lado eletrónico tão presente nas origens da banda, sem perder o arzinho de synth-pop de todo o disco. "Display" tem um toque ligeiro de balada, "Tokyo" é, uma vez mais, a representação do encontro do synth pop com o new wave inglês. Por fim, "In Return" é a derradeira música para fechar a noite (ou, mais uma vez de forma prática, para ‘’fechar o tasco’’). Esta tem a particularidade de ter um ritmo mais lento e de ser acompanhada de um monólogo que lembra o fim de um filme francês- um bom fecho que corresponde aos níveis de um bom começo.
Podemos ver em Compassion pequenos músicos amadores cuja música não passaria decerto despercebida nos anos 80. Amadores: não porque a música de Lust For Youth é imatura ou incapaz, mas sim porque compará-los a New Order ou Depeche Mode é demasiado. Lust For Youth mostram que têm capacidade para ser uma grande banda, talvez até capaz de, daqui a uns anos, serem tão bons que comparar uma banda pequena aos mesmos seja ‘’demasiado’’. Assim esperamos.