Com todo o alarido que tem havido perante a nova geração de bandas de black metal a surgir da Polónia, Islândia, Estados Unidos e Alemanha, frequentemente infiltradas com porções de death sempre a rasgar, o ratio de projetos que rondam em torno das frequências mais baixas e das batidas mais prolongadas, tem vindo a diminuir exponencialmente. A não ser através do doom, sludge ou até mesmo drone, em contraposição com o death metal puro e cru, atualmente quase extinto, sobra às novas gerações recriar e redefinir um novo padrão para um dos estilos mais extremos na música. Um exemplo disso, são os Mammoth Grinder do Texas. Liderados por Chris Ulsh (Power Trip, Impalers e Hatred Surge), a banda é também constituída por Mark Bronzino e Ryan Parrish de Iron Reagan, sendo que este último também já se alinhou no passado com nomes como City of Caterpillar e Darkest Hour. Apesar do projeto ter nascido em 2005 e do imenso impacto que o grupo tem imposto desde então, este acabou por sofrer à conta da prioridade dos projetos primários, algo que resultou em inúmeras alterações de alinhamento e que só por si, ditou o hiatus da banda em 2014.
Em 2017, a banda anunciou o seu retorno, confirmando também lançamento do novo álbum, Cosmic Crypt, a ser lançado em 2018 através da Relapse. É inegável que a banda possui um nicho muito específico de aficionados a apreciar a sua música desde o lançamento de dois dos seus mais reconhecidos registos: Extinction Of Humanity e Underworlds. Tem sido evidente que os texanos entregam um som inerente a dois estilos quase polarizantes. Por um lado obtemos a fúria em forma de protesto do punk e por outro, o peso abundante do death metal desentranhado. A produção crua e a escrita refinada, ao longo dos anos, tem ajudado o trio a encontrar pontos estratégicos, onde amalgamar todas as suas influências com devido esplendor. É por isso que se acompanha hoje, o aguardado retorno do nome, em alinhamento renovado, perante um horizonte que promete peso desumano.
Há uma coleção de momentos durante a audição do álbum, onde se pode verdadeiramente apreciar o talento de músicos de gerações recentes. Neste preciso registo, enquanto que a produção e a falta de hesitação em determinadas secções favorecem o trio numa entrega de peso brutal, nunca dá para perceber ao certo qual a postura que a banda mantém ao escrever o material. A indecisão é gritante em faixas como “Servants Of The Most”, “Divine Loss” e “Locusts Nest” onde o coletivo entrega, com tremenda força, todo o poderio em aglomeração de ódio, mas peca sem saber como desenvolver argumentos, ou pelo menos os melhores, na entrega do instrumental. Mesmo com esse “quase” nos highlights, a forma física e o fulgor em brasa da banda, colocam-nos num patamar, digno de ser partilhado, com os nomes mais conceituados do estilo.
Criando uma tangibilidade quase pessoal para com o ouvinte, verdade é que uma química realmente bem investida consegue sempre grandes resultados. Sublinhando o bom timing e equilíbrio na métrica de “Human Is Obsolete”, onde a banda progride e encontra meios para amplificar as suas dimensões, e a ferocidade de “Blazing Burst” onde a banda encontra, com grande personalidade, uma pletora de mudanças de tempo a fundir com o lamaçal das basslines. As guitarras arrastam-se como um ciclone de porcaria humana, pintando assim uma moldura de horror e rendição, sujeitando a audiência a um tareão sónico onde as pinceladas de peso, marcam a mente como um machado de guerra ou uma cuspidela de escória em brasa. Infelizmente, a banda perde essa comunicação em faixas como “Grimmenstein”, “Molotov” e “Mysticism” onde acumulam poucos, senão nenhum, motivos para validar leitura e boas decisões.
Na verdade, a desinspiração e o refúgio incessante às mesmas soluções fáceis, definem a morte do artista. Seja por compensação ou não, a banda consegue redimir estes três nulos com um single merecedor de prémio, mais especificamente “Superior Firepower”. Esta última, tem tudo o que qualquer um pode desejar de Mammoth Grinder. Uma combinação implacável de energia e impacto, que ajuda a faixa a ganhar o momento mais memorável do álbum. Em contraste com todas as acima mencionadas, esta consegue armar o som com um arranque a soluçar a engrenagem em ruído, com agressão, presença, ataque, contagiosidade e uma quantidade absurda de energia. Ouvindo-se o reverb dos growls puncionados pelas cordas, estas intercalam-se com a lentidão absurda da bateria, onde esta encontra a confortável ameaça física na hesitação da entrada e na aceleração a meio da faixa. Tudo isto culmina num arbítrio absoluto para escavar o maior mosh-pit num raio concebível.
Não havendo necessidade de colocar o nome deste trio num patamar que não merece a pressão de uma ambição específica, vale a pena livrar todo e qualquer desejo de ler a banda numa postura de músicos incontornáveis. Mammoth Grinder não existe para convencer críticos nem ganhar Grammys e diante de nós temos uma banda que escreve para poder tocar ao vivo. Observando o resultado final com essa perspectiva em mente, apercebemo-nos de que a missão da banda foi bem conseguida, quanto a isso, não há dúvidas. Sujeitam-se, no entanto, à mercê de toda a media de música pesada, por finalmente se fazerem ouvir através de uma plataforma que alcança distâncias. No que toca aos dados finais, “Cosmic Crypt” rejeita sem hesitação, todo e qualquer vestígio de forward-thinking. Apesar da distorção que constrói paredões de pura destruição, com o exclusivo intuito de criar um som simplesmente primal e completamente arrojado, o álbum continua a ter, no seu cerne, uma fundação punk. É por isso que, mesmo sem grandes elaborações e desenhos, o álbum apresenta-se como uma experiência digna de viagem imediata aos confins do abismo, onde qualquer entendio obtém uma entrada fácil, com uma saída muito fodida de se arranjar.