Apesar do estado atual do mundo, abril tem sido um mês ocupadíssimo em termos de lançamentos e discos novos. Este em particular tem mantido muita gente num antro de antecipação e expectativa. Os finlandeses Oranssi Pazuzu já estão nestas andanças há pouco mais de uma década. A discografia destes, que até hoje já se estende até aos cinco LPs (sem contar com Waste of Space Orchestra, dois EPs e um disco ao vivo no Roadburn), oferece uma imensidão de arte conceptual, extravagância visual, e acima de tudo, exploração sónica. Tentar encaixar o quinteto num só género é um desafio desnecessário, mas para isso existe uma mão cheia de referências que devem ajudar com mais clareza nessa tarefa. Elevam-se elementos de black metal, prog-rock e krautrock dos anos 70, bem como algumas perspicazes pronúncias de psicadélica, esotérica e mitologia. O grande feito destes passa por conseguir segurar todo este mapa astral, destacando todas as suas influências de forma saliente e notável, criando simultaneamente algo absolutamente distinto e revitalizante. Como toda uma mutação da new age.
Até ao terceiro disco da banda, Valonielu, esta já havia colhido alguma atenção no underground europeu, mas foi com o lançamento dos dois consecutivos game-changers –Värähtelijä e Syntheosis (colaboração com os compatriotas Dark Buddha Rising) – que conseguiram o muito esperado breakthrough. Este ano a banda apresenta o seu mais recente contributo: Mestarin kynsi. Traduzido para português, o disco apresenta as garras do mestre ao ouvinte e é com a primeira faixa, “Ilmestys”, que o mestre rodeia o ouvinte numa intoxicante e manifestante voluta parede de som! Cinco minutos num loop espiral e o som expande-se numa ostensiva faísca de camadas entre bateria, guitarras, baixo e sintetizadores amplamente coloridos pela euforia e pelo estímulo. As seguintes “Tyhjyyden sakramentti” e “Uusi teknokratia” explodem com uma consequência mais imediata e numa extensiva progressão de êxtase magnético. Enquanto sustentadas por uma postura tanto cinemática como debilitante, o ouvinte não consegue senão obedecer à chama do mestre, numa total entrega e desapropriação do seu “eu”.
A altamente sufocante, embriagante e contagiosa “Kuulen ääniä maan alta” acumula estratosferas de camadas rítmicas que se mostram impossíveis de resistir, enquanto o fecho da “Taivaan portti” se sustenta como uma amolação queda livre. Uma epidemia de dissonância, caos e desordem entre o metafísico e o entroncamento mental. Um corpo a drenar a mente como pulmões a vazarem oxigénio. O resultado é um som que se estende com tamanho alcance que acaba por transcender os limites do que é químico e consciente. Aliás, não só transcende além, como ainda destrói o terminus ad quem que a banda tem tão regularmente manipulado no passado. Mestarin kynsi anula toda e qualquer barreira que separe o som do ouvinte. Desde a primeira à última faixa, um e o outro passam a ser os dois lados da mesma moeda: “You are one and the same”, e isso não há quem faça melhor que os Oranssi Pazuzu.
Texto traduzido e readaptado de Strugatsky Alumni. Segue para reviews (em inglês).