É sempre cativante ouvir música que tenta quebrar tabus. Por muito que a conversa esteja bem em cima da mesa, ainda não é tão comum assim ouvir música country que aborde diretamente a homossexualidade. Por isso, quando Orville Peck surgiu como um ícone gay em que a sua própria identidade está rodeada de mistério neste género musical, é quase impossível evitar ouvi-lo, nem que seja pela curiosidade. Depois do surpreendente Pony, o homem por trás da máscara pretende chegar ao country mais mainstream, aliando-se a Jay Joyce, o produtor de nomes da realeza do género como Miranda Lambert, Eric Church Brothers Osborne ou Ashley McBride. E é visível essa ânsia de vingar e de se tornar nome digno a juntar-se a esses grandes.
Depois de ter sido baterista de algumas bandas punk, dançarino e ator em musicais de West End, Peck junta todas as suas vidas neste trabalho. Bronco, o segundo disco do cantor canadense, poderia até protagonizar o seu próprio filme, sendo quase um musical por ter um enredo tão rico e uma musicalidade cinematográfica bastante western. Lançado em três partes, este trabalho ficou completamente disponível ao público a 8 de abril de 2022 e apresenta a maturidade de Peck. Aliás, o nome do disco não é mero acaso. Depois de Pony, Bronco chega mais robusto e seguro de si, devidamente acompanhado por músicos de topo de Nashville.
A audição de Bronco cria imediatamente a imagem do cowboy na nossa cabeça, mesmo que com algumas lembranças de Elvis na voz de Peck. Essas duas imagens meio contraditórias – a do cowboy mais bruto pronto para o rodeo e a do cantor de baladas românticas onde a sua alma está despejada – atingem aqui um equilíbrio mais notório. Aqui, tudo é mais alegre, rítmico e diverso. Existe um amor profundo ao género musical que deixa que a instrumentação não se prenda a sonoridades profundamente tristes, mesmo que as letras se concentrem em desgosto e luto amoroso. Ao contrário de Pony – que se baseava mais nas origens punk e goth de Peck, com baladas de cowboy solitário –, este álbum mostra-se mais aberto a explorar todas as tonalidades emocionais que uma música pode tomar. E isso também é crescer.
Conhecido pelas suas performances arrojadas em que entrega uma teatralidade imensa, Orville Peck tem uma oportunidade de continuar a caminhar para reinventar ainda mais o country. Bronco é uma lembrança do que o country já foi, misturado com o que pode vir a ser. Com um lado moderno e queer, esta é uma porta para um género que muitas vezes cai na “mesmice” e passa ao lado das novas gerações. Mesmo que menos intenso do que o seu antecessor, está aqui um trajeto que merece ser acompanhado.