Flertamos à saída da praia. Vacilou, quase me perdeu, mas desde então não me sai da cabeça.
É assim que The Drums, a banda que se afirmou no momento alto do indie com um som energético e melodioso, escreve mais uma página da sua história. Quem está à espera de pegar em Brutalism e ouvir um Portamento 2.0, que tire já da cabeça a percussão estéril e o espírito dream surf que marcam o trabalho de 2011. Mas o cunho adolescente e solarengo mantém-se, renova-se, ganha espaço no meio de samples e sintetizadores sem nunca perder a imagem de marca do conjunto americano: aquele apelo pop irresistível.
Bem, é importante perceber porquê. Digamos que “o conjunto” não é bem o mesmo que começou este projeto em 2009. Dez anos depois, permanece apenas um dos quatro membros originais - o vocalista Jonny Pierce – e assim tem sido desde 2017 quando soubemos que Abysmal Thoughts, álbum antecedente deste Brutalism, seria lançado sem participação de Jacob Graham. Ditou-se o fim de uma colaboração sempre acidentada entre dois amigos de infância, dando início ao monopólio criativo de Pierce com algum estrondo. É que essa obra de 2017 arrisca muito em quase 50 minutos de música e uma amplitude estilística igualmente extensa. Tem momentos que vão desde o típico Drumsismo, com a batida pujante e melodia infeciosa, até ao synth pop com saxofone. Este novo esforço de Pierce tem de ser entendido como a sequência natural de Abysmal Thoughts. Aqui, ele reduz para nove faixas e 34 minutos, oferecendo um exercício interessante de como não perder a assinatura sonora no meio de laivos experimentais.
O problema inegável deste álbum é ser uma aposta demasiado segura para um disco tão curto. Traz uma questão clara: será possível puxar para esta década um som que marcou o indie há dez anos? Esta é uma tentativa de dar frescura sem recorrer à eutanásia, mas em menos de 35 minutos teria de ser mais arriscada e concisa para convencer totalmente. Brutalism hesita em momentos cruciais, especialmente na segunda metade. A sexta faixa, “I Wanna Go Back”, mostra quem costuma oferecer surf com bandeira vermelha a acalmar-se e ir nadar à cão num laguinho. Segue-se “Kiss it Away”, que alterna entre momentos fantásticos de composição e outros verdadeiramente secantes. Algo próprio de um disco que não sabe se quer ser excelente ou não: acaba deixando fugir as ideias.
No canto oposto temos as três teaser tracks: “Body Chemistry”, “626 Bedford Avenue” e “Loner”. Escolhidas a dedo, são uma tríade de bons exemplos daquilo que pode ser o seguimento da estética da banda. Letras descaradas e melodias metediças – por vezes ridiculamente dançáveis – assentam perfeitas na almofada dos instrumentos e vozes. Este pop atrevido e potente com refrões que dizem “tenta tirar-me da cabeça”. Não respondam, não vale a pena. Repitam só: “I know some good luck and a good fuck / A nice glass of wine and some quality time / Is gonna make you mine / (But it's not what I'm trying to find) / I know some good luck and a good fuck…” ad aeternum. Ou oiçam a voz na vossa cabeça dizer “It’s just a little blip of joy”, tirada da última canção, “Blip of Joy”, seguido da melodia de coro. Não é um closer brilhante, mas não pode ser totalmente ignorada.
É explorando sem sair da palete sónica “The Drums marca registada” que este disco sobressai. Quando tenta esticar-se além do sol e adolescência costuma ser pouco cativante e repetitivo, como na faixa que adota o título do álbum. No entanto, há um caso outlier na penúltima música. Em “Nervous”, Jonny consegue o que não fez antes: inovar fora do molde confortável. Vemo-lo em encargos de balada, num momento praticamente acústico – acontecimento raríssimo na discografia. A voz de Pierce faz parecer fácil e o acompanhamento põe um selo grande e dourado na testa desta canção. Fica a vontade de vê-lo assim, fora da praia, mais vezes, a abanar devagarinho com o vento montanhoso. No ar paira a ideia de que ainda há muito a espremer deste projeto. Portanto, em apelo direto: vá lá, Jonathan Pierce, atira-te de paraquedas no próximo.