É comum ver que os projectos com naturalidade californiana se mantêm dentro de característicos géneros, explorando posteriormente os seus subgéneros. Os The Doors funcionaram como um grande pilar na produção de rock'n'roll com toques desvanecidos de psicadélico e as bandas que por lá foram nascendo foram produzindo mais e juntando-lhe o seu toque. Editoras desde a Lolipop Records até à Beyond Beyond is Beyond Records, passando pela conceituadíssima Burger Records "fartam-se" de trabalhar com novos projectos e sabe-se que a maioria deles, embora nunca chegue ao auge do comercial, acaba por fazer sempre uma sonoridade interessante; The Electric Magpie é mais um projecto que prova isto mesmo.
Formados um ano após a saída da faculdade, por entre o vício da cafeína, foi em Agosto de 2012 que a banda deu o seu primeiro concerto, em Oakland juntamente com o lançamento do primeiro single "She Said No (To My Love)", tendo sucedido-lhe o b-side "Well Fed Circus Folk", composições que ficaram fora de Begins, álbum de estreia.
Numa edição da Lolipop Records, Begins, é um álbum do passado recuperado no presente. Se as bandas californianas são boas nisso, como foi o grande exemplo do álbum de estreia dos Foxygen lançado no ano passado, este ano é em "What's For Tea?" - tocada numa guitarra de 12 cordas e acompanhada de uma voz intimista - que encontramos a descrição da música que a banda produz. Mas fiquemo-nos por "Mournig Gloria", o que acontece após os dois minutos de música é algo incrível. Anda o mundo em 2014 a consumir o psicadélico da austrália e de olhos arregalados para o miúdo do Viceroy e esquece-se que há bandas nos subúrbios de São Francisco a tocar "Hold On (Hannah)" e "Airport Blues" para uma sala meio-vazia.
O mais interessante em Begins é a inexistência de monotonia. Basta colocar "DEAN" a tocar, este minuto é o mais intenso de todo o álbum e o que traz mais sensações em cerca de vinte e seis minutos de duração total. E o mais genial é que uma composição agigantada, profunda e pessoal como é "DEAN" é partilhada juntamente com sons mais animadores e embebidos em guitarras com sabor a verão, sol e maresia como "Birds in the Trees" e "Friends", cujo final é o chamado "orgasmo musical".
A reprise de "What's For Tea?" acaba por dar continuidade a uma sonoridade mais calma iniciada em "Springtime Ease" e que é finalizada em "Day Is Done". É tão bom assistir a um álbum que tem um fim tão bem conseguido, tão produtivo, mas que acaba tão depressa. É o chamado amor-ódio a que o ser humano tanto foge, mas que acaba por lhe estar prensado em condição. Afinal os The Electric Magpie não estão cá para explorar só subgéneros, eles próprios fazem o seu e este álbum soube prová-lo muito bem. Afinal, entre recuperações de sonoridades antigas e numa tarde solarenga, não há rock'n'roll nem constante audição de tais estilos, há apenas uma certeza, como a própria banda descreve: "The sun isn't yellow, it's Magpie.".