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The National - I Am Easy to Find

The National - I Am Easy to Find - 2019
Review
The National I Am Easy to Find | 2019
Tomás Quental 11 de Junho, 2019
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Calexico e Iron & Wine - Years to Burn

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Rock alternativo ou dad rock? Nenhum dos dois. Isto é mom rock.

The National são uma banda cada vez mais difícil de apresentar em texto. Não por haver pouca informação sobre eles, ou por ninguém os conhecer - exatamente pelo oposto. Quando a qualidade do trabalho chega ao patamar destes meninos, há uma probabilidade acrescida de esse trabalho ganhar reconhecimento. Quando essa qualidade se mantém ou aumenta a cada ano que passa, maior o reconhecimento e mais cimentado o estatuto. Assim chegamos ao ponto atual, em que é difícil contar algo novo sobre a banda que ganhou, em 2018, o Grammy de melhor álbum alternativo, com o seu sétimo LP de estúdio Sleep Well Beast. Portanto, com o lançamento do seu oitavo disco, I Am Easy To Find, o risco de incorrer em erros de pesquisa humilhantes, ou (pior) escrever algo entediante e redundante, aumentou exponencialmente. Com isto em mente, as palavras que se seguem não vão ter qualquer utilidade ou ajudar a conhecer a banda. É uma questão de segurança pessoal, respeitem por favor. O seguinte texto tem como foco as magníficas versões portuguesas de nomes de estados nos EUA – e os gentílicos formados a partir dessas palavras – aceites pela Direção-Geral da Tradução da Comissão Europeia. Vinde, não há tempo a perder.

Como não amar aportuguesamentos consagradíssimos como Coneticute, Cansas ou Marilândia. Ou outros, tão mais obscuros e fascinantes. Clássicos do género de Delauare, Iova (eu sei, é preciso pensar um pouco para perceber este), Oclaoma ou Utá. E os habitantes destes bonitos sítios do outro lado do Atlântico? Temos gente incrível como o cansense, rodislandês, michiguense, ou o meu favorito: o massachusetano. Ohio pode ser aportuguesado para Oaio, mas os seus habitantes são, por regra, ohioanos. Por exemplo: “Matt Berninger, vocalista dos The National, cresceu no estado do Oaio. Outros membros da banda são Aaron Dessner, Bryce Dessner, Bryan Devendorf, Scott Devendorf - dois pares de irmãos ohioanos”. Há algo engraçado e poético em ver estas palavras retiradas da sua grafia original, algo estranhamente não americano, mas familiar. The National nunca conseguirão soar a algo que não a América, está-lhes no nome e no sangue. Mas, em I Am Easy to Find, o conjunto é mais familiar do que alguma vez foi. Honestamente, é mais uma família que uma banda.

Além da já habitual inclusão de orquestra nas versões de estúdio, vemos o Brooklyn Youth Chorus e sete (sim, sete) mulheres vocalistas a controlar a guarnição cantada do disco. Não por as mulheres pertencerem à cozinha, mas porque estas são verdadeiros talentos nessa área. Matt Berninger passa, assim, a não estar presente em algumas canções e, nas que está, quase sempre acompanhado por (pelo menos) uma vocalista. Esta inclusão abre novas portas à estética da banda. Como diz Carin Besser, mulher do vocalista e coliricista da banda desde Boxer (2007): “oh, there’s a whole other wing in our house! We’ve never been here, let’s see what we can do”. Esta ideia dá um toque personalizado ao disco e será sempre a sua faceta de maior destaque. Aqui, a Mulher é não só dona de casa, mas também o ganha-pão. O único verdadeiro problema foi não ter sido explorada até não poder mais. A ideia, não a Mulher – essa já foi explorada o suficiente. Fica muito do potencial destas vocalistas por mostrar, um verdadeiro crime num trabalho de 16 faixas e quase 64 minutos.

I Am Easy to Find, se não for óbvio a este ponto, é um disco que vive à volta das mulheres que o integram, muito mais do que do núcleo da banda. Mesmo assim, não deixa de ser um álbum quintessencialmente The National. Mais ninguém poderia ter assinado um trabalho destes e não seria bizarro afirmar que este é o seu som no seu estado mais puro e casto. Talvez seja porque, nos arranjos finais, praticamente só o esqueleto musical e a voz de Berninger vêm da banda de Cincinnati. O resto tem diversos autores e não se perde num mar de ideias. Esta virtude louvável do disco só vem provar o respeito que os colaboradores prestaram e o quão bem apurada está a identidade do conjunto. Mostra que o futuro ainda pode trazer uma evolução sonora bem-sucedida para a marca registada The National, já que podem ceder tanto do controlo criativo e da execução sem que o essencial se perda.

O toque feminino, por mais absurdo que pareça, começou de um homem. Era 2017 e tinha acabado de sair Sleep Well Beast quando Matt Berninger é contactado pelo realizador, argumentista e designer gráfico Mike Mills. Quem viu 20th Century Women sabe o talento que Mills tem para dar vida a personagens - especialmente as femininas - de forma natural e honesta. Do seu desejo de colaborar com a banda, acabou por surgir este projeto conjunto. No final de inúmeras trocas de ideias e inspirações mútuas, nasceram um disco e um filme, ambos com o mesmo título. Nas palavras dos artistas: as duas obras não precisam uma da outra para fazer sentido, mas são como “irmãos hostis que se amam e podem fazer o que quiserem”. A curta protagonizada por Alicia Vikander acompanha a vida de uma mulher, desde a sua infância, em pequenas vinhetas líricas. A banda sonora tem trechos das canções do disco, rearranjados e editados por Mike Mills e, por outro lado, algumas letras do álbum são retiradas do argumento. É um filme fantástico que, infelizmente para o “seu irmão”, acaba por ser o filho favorito nesta casa. Talvez, em parte, porque a organização em vinhetas funciona melhor no cinema. Há uma tentativa deliberada de fazer o disco viver do mesmo processo, acabando por pecar e estragar alguma da fluidez própria da experiência de ouvir um LP.

Mesmo Carin Besser, poetisa e ex-editora no New Yorker, vê os seus créditos líricos reforçados, chegando a ter duas canções (“You Had Your Soul with You” e “Hey Rosey”) cujas letras são inteiramente assinadas por ela. A relação poética que o casal desenvolveu é das partes mais interessantes dos trabalhos recentes da banda. Como seria de esperar, escrevem pensando no seu casamento. Não é incomum ver pequenos recados enviados um ao outro, ou pedidos de desculpas, tudo codificado por dois sujeitos poéticos claramente demarcados, mesmo que (até à data) tenha sido cantado só por Matt. Uma graça e leveza que se veem reforçadas em I Am Easy to Find, com um toque fotográfico nos seus momentos mais fortes. Fotografias de uma América real, mesmo que lírica. “I'm not that spiritual I still go out all the time to department stores”; “There are police in the museum”; “Maybe we'll end up the ones eating chocolate chip pancakes next to a charity swimming pool”; “Move back home with mom and dad / The pool is drained and they're not there / My bedroom is a stranger's gun room / Ohio's in a downward spiral”; “What are we going through, you and me? / Every other house on the street's burning”.

Ou em outros momentos mais sentimentais: “I know I can get attached and then unattached / To my own versions of others”; “I'm the rocks they weigh down the angels with”; “There's a million little battles that I'm never gonna win anyway / I'm still waiting for you every night with ticker tape”. Ticker tape é uma fita para gravar telegramas – em tempos não só usada para comunicar cotações da Bolsa, mas também para atirar da janela em celebrações e cortejos. Não é em todo e qualquer verso que a genialidade do casal se mostra, mas quando aparece não tem vergonha de brilhar.

As faixas mais fortes são “You Had Your Soul with You”, “The Pull of You”, “Where Is Her Head”, “Light Years” e “Rylan”. Esta última com a agravante de ser um trunfo descartado do tempo do (enorme) Trouble Will Find Me (2013). Já tinha um lugar mitológico na discografia, sendo uma favorita dos fãs mesmo sem uma versão de estúdio. A sua inclusão no trabalho de 2019 é magistral: o disco ganha um hit de peso e as texturas das vozes femininas dão ainda mais profundidade à canção – um casamento verdadeiramente feliz.

Não é um LP perfeito e fica longe disso. Este é um facto perturbador quando se olha para a quantidade de trechos incríveis. Na verdade, não há uma única faixa má num álbum com mais de uma hora. Mas isto não pode ser desculpa. De um disco tão comprido pede-se, no mínimo, que não tenha enchimento. Sendo este o trabalho de maior duração da banda até à data, era uma armadilha fácil de pisar – The National caíram nela. Olhando apenas para algumas faixas (“Hey Rosey”, “So Far So Fast” e “Hairpin Turns”), torna-se claro que este disco poderia ter sido reduzido consideravelmente, melhorando a experiência. Em alguns momentos mais fortes (mas repetitivos), o disco já testa a paciência do ouvinte. A inclusão de todas estas faixas torna esses momentos ainda mais apáticos. Por exemplo, a transição entre “So Far So Fast” e “Not in Kansas” - fora do Cansas, uma referência ao Feiticeiro de Oz (infelizmente a grafia “Ós” ainda não foi aprovada) – é um momento que pede para ser passado à frente. Havia material bom o suficiente para arriscar fazer o melhor LP até à data, mas a banda escolheu fazer algo mais orgânico e menos pensado. É um disco que mostra a celulite e as estrias, talvez porque assim mesmo tinha de ser. Não seria puro de outra forma. Neste aspeto, perde a experiência do ouvinte, mas ganha a visão do artista. Se há alguém com estatuto para o fazer é este grupo, esta família.

As personagens do filme também, recorrentemente, “discutem sobre as mesmas coisas”. Essa redundância é parte da vida – parece ser algo que I Am Easy to Find nos quer ensinar. No filme também há quem cresça e vá errando pelo caminho. Talvez este disco suporte bem a erosão do tempo. Por um lado, já vem com rugas, com sinais de alguém que já viveu muito e sabe o que está a fazer; por outro, tem a jovialidade de quem ainda não teve tempo para grandes pecados, ou já perdeu a inocência, mas não esqueceu o que é ser criança.

Na verdade, todo o trabalho perde valor se o tentarmos esmiuçar como o formato de crítica musical pede. Há música que simplesmente não é suposto ouvir com atenção redobrada e um ouvido crítico, mas sim com à-vontade e paciência. No formato de clã em que a banda se apresenta em 2019, com dezenas de membros além dos cinco do costume, I Am Easy to Find é um filho mais novo. Às vezes gosta de nos testar a paciência. Mas é inocente, meio desengonçado e com a gola da camisa mal dobrada. Lá está ele entretido sozinho, sentado, a fazer desenhos. Nós só temos de estar na mesma sala, prontos para lhe prestar atenção de vez em quando. E, quem sabe, um dia vê-lo crescer e partir para a faculdade.
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Bandas The National

The National - I Am Easy to Find
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