Dois mil e dezanove ainda agora começou, e já há tanto por dizer e para escutar que só pode agoirar uma excelente colheita musical para este ano. Um dos regressos mais esperados para o início da temporada era o já anunciado Outer Peace do músico e produtor americano Toro y Moi, álbum que demonstra todo o potencial do artista enquanto produtor, mas revela a fragilidade do mesmo enquanto compositor.
Comecemos pelo lado positivo: o som! Chaz Bear alia com uma mestria invejável as suas inspirações eletrónicas com a vibração do funk e a alma do soul, nunca parando de dançar um bom disco. Ora, apesar de Outer Peace, seguir sempre um registo algo já recorrente no panorama musical atual (o electro-funk), de faixa para faixa o ouvinte é surpreendido pela imprevisibilidade e frescura das músicas, que contagiam o pé e o corpo a mexerem-se ao sabor do ritmo. As referências vão desde de Donna Summer a LCD Soundystem - estes obviamente homenageados na pessoa de James Murphy em “Laws of the Universe”, numa clara invocação a “Daft Punk is Playing at My House” -, e conjugam-se num agradável revivalismo futurista.
Outro aspecto notável neste álbum, é que, apesar de este ser maioritariamente digital, soa constantemente caseiro, quase como em estilo de jam-session. Ora se tal inicialmente me agradava, alertou-me para o que me desagradava no álbum e não conseguia explicar. Permitam-me a redundância, mas passo a explicar: Antes de escrever esta (minha) análise do álbum, ouvi-o várias vezes, não porque ele me cativasse especialmente, mas exactamente pelo oposto. Isso, antagonicamente, intrigava-me e fazia-me voltar a ele. Outer Peace soava-me fun, mas não me chamava a si novamente. Um daqueles álbuns que que enche mas não sacia. Não conseguia perceber o que lhe faltava, até reparar que o seu tom caseiro estava-me a distrair das suas falhas. Toro y Moi entrega-nos uma excelente mostra de bons sons e ritmos, mas só isso, ficando aquém de construir boas músicas. As letras são repetitivas e, grande parte das vezes, desnecessárias. Nota-se que o uso do auto-tune, ao contrário de Boo Boo, é usado não como primazia produtiva, mas como forma de distração à falta de inspiração lírica. O mesmo acontece com as colaborações, que não acrescentam nada às músicas a não ser um timbre diferente. Fica a sensação de que palavras foram arremessadas ao calhas para gerar algo. Isto faz com que quase todas as músicas sejam mais longas do que necessário, presas num engonhanço causado pelo facto de elas terem apenas para mostrar os sons que Chaz havia criado.
O músico americano apresenta um trabalho que apesar de absurdamente criativo, acaba por soar preguiçoso. E isso entristece-nos, até porque tendo em conta o potencial aqui apresentado, com um pouco mais de empenho estaríamos perante um dos seus melhores trabalhos. Outer Peace é um álbum divertido e dançavel para colocar a rodar em momentos de trabalho mais descontraídos, ou de lazer em amena cavaqueira, mas está longe de ser um álbum que levemos em loop ou na memória para o resto do ano.