This World Is Going to Ruin You começa logo à beira do precipício. Passam pouco mais de trinta segundos e já estamos a esbarrar no chão com toda a força. Assim que “Welcome Home” abre a jornada que se avizinha, o presságio que assinala é o de uma viagem avassaladoramente atribulada. Mas para o quinteto de Boston nada menos seria de esperar, porque de hardcore positivamente caótico e brutalmente vulcânico percebem eles, e este segundo álbum de estúdio que o diga. Os feitos alcançados em Errorzone – era em que a banda ainda se conhecia simplesmente por Vein – redobram-se, triplicam-se até, nesta nova proposta. Com a chegada do “.fm”, veio também uma dose reforçada de agressão, hostilidade e exuberância na sua versão mais mortífera. Com compassos incisivos de precisão cirúrgica absolutamente necessária para manter os padrões progressivos em linha, segmentações imprevisíveis que de acaso não têm nada, e uma larga desconsideração pelo apego aos tropes do género, os Vein.fm afirmam-se agora, se antes já não o haviam feito, como uma força a ser considerada na sua área de atuação.
Chapa atrás de chapa, surra atrás de surra, essas são as únicas constantes aqui em jogo, mas é justo que se diga que este disco não é de entorpecer os sentidos, pois apesar da sua intensidade ser constante e o decibelímetro apontar sempre para o topo da sua escala, temos aqui variedade estrutural para dar e vender. Faixas como “The Killing Womb” e “Orgy in the Morgue” desenrolam-se com uma complexidade de ideias tal que é impossível não ficar num estado de alerta permanente. Mas um bom álbum não se debate apenas na sua multiplicidade de texturas e conteúdos, e no que a isso respeita, os méritos dos Vein.fm não surgem sem os seus senãos. Certas ideias, não obstante o interesse que possam suscitar, desvanecem com a mesma rapidez que se introduzem, não desenvolvendo, portanto, o seu potencial completo.
Crítica construtiva à parte, não faltam por aqui novas conceções que elevam a fórmula de hardcore anárquico do grupo para novos e férteis terrenos. As instrumentações são exploradas – para não dizer abusadas, em certas instâncias – até ao limite do que ainda lhes permite essa mesma denominação. Os vocais limpos voltam ao ataque, e tanto podem variar entre o banal em “Versus Wyoming” e o adequado em “Wavery”. A lírica mantém a ética voraz e sangrenta do disco de estreia, de verso curto e robusto. O uso de samples vocais surge como uma surpresa bem agradável; veja-se, por exemplo, “Magazine Beach”, onde essa pequena adição é suficiente para adulterar o carácter da faixa (para melhor, note-se).
Podíamos ficar aqui a discutir cada chicotear da tarola, cada guincho das guitarras, cada expressão obtusa de computações metálicas e erráticas. Podíamos ainda fazer referências à experimentação com pianos ominosos e linhas de baixo oscilantes, como é o caso de “Wherever You Are”, ou a todas as ocasiões em que a bateria se disfarça de britadeira ou as vozes deixam de se assemelhar a algo de matriz humana. De facto, podíamos falar disso tudo, mas a meu ver, This World Is Going to Ruin You carrega essa discussão melhor do que eu. Porque não redirecionar esta conversa para lá?