Provenientes de Denver, Colorado, os Wayfarer têm vindo a crescer como nome sinónimo ao grande renascimento americano do metal moderno. Juntos desde 2011, a banda é hoje composta por Shane, Jamie, Joey e Isaac Faulk (Blood Incantation). Para além de estarem inseridos num panorama local onde se podem sublinhar nomes como Primitive Man, Of Feather and Bone, Dreadnought, Blood Incantation, Spectral Voice e muito mais, Wayfarer conseguiram, com todo o mérito, formar um som simultaneamente único e extremamente bem executado. No entanto, apesar da discografia da banda já se estender ao longo de meia década, foi só com o início da colaboração com a Profound Lore Records e o consequente lançamento de World’s Blood que o quarteto começou a ganhar mais relevo mediático. Um ano após o seu lançamento, os americanos levaram o disco por digressões pela América do Norte e Sul, bem como pela Europa, tendo também marcado presença em alguns festivais de renome como o Roadburn, o Fire in the Mountains e os Terror Fests de Northwest e de Austin (façam o favor de averiguar os cartazes destes últimos porque são realmente qualquer coisa). Agora, chegando o momento de conquistar o sucessor do tão sólido e memorável World’s Blood, o mundo vê-se confrontado com o próximo capítulo dos Wayfarer: A Romance with Violence. Mesmo preservando os mesmos 44 minutos de reprodução e pouco mais faixas na listagem, o disco é um verdadeiro testemunho em termos sonoros e líricos
“The Curtain Pulls Back” apresenta-se com uma introdutória pianola antes das primeiras atuações. “Gallows Frontier”, composta por duas histórias, duas aventuras e duas odisseias, mergulha na penumbra e silhueta de duas figuras icónicas do velho oeste. “The Crimson Rider”, imediatamente associado ao pistoleiro sem esperança, expande como uma paisagem a percorrer o horizonte durante uma fuga de mão no coldre. Com grandes progressões de midtempo a escavar e a pedalar com paciência e fulgor, a faixa floresce com uma secção de guitarras penetrantes que mais tarde combinam a ligação entre a velocidade e a melodia com a cadência e antecipação, sempre a esculpir uma imagem mental suada e pingada em sangue. “The Iron Horse”, acerca do cavalo revestido em ferro, perdido nas dunas da sua perdição, entra em imediato ataque sob um paredão de blast beats e berros a céu aberto. A pavimentar a progressão da faixa pintam-se grandes assaltos de riffs abrasivos destacados de forma brilhante contra um fundo bem formado pelas frequências baixas do baixo e do pedal duplo. O solo na segunda metade da faixa vem no timing certo e, apesar de não ser nada de absolutamente especial, termina exatamente aquilo que começou, com uma conclusão mais do que merecida.
Mesmo tendo já passado três faixas a fundo, existem ainda dois interlúdios pelo caminho. “Fire & Gold” – inevitavelmente associável ao There Will Be Blood – entoa sobre a perdição desesperante pelo ardente ouro no subsolo, enquanto “Intermission” surge para simplesmente respirar. Ambas as faixas que intercalam as pausas surgem como um trunfo no momento mais inesperado. A intensa “Masquerade of the Gunslingers” é uma definitiva representação de tudo o que o disco tem vindo a encapsular – com grandes escavações composicionais e uma teatralidade fielmente apropriada à história que entoa, ressoa-se a passagem “And the men in the masks in death will live on”. Um par de dança perfeito para a incrível faixa de despedida, “Vaudeville”, que brinda o ouvinte com a melhor conclusão possível. Quer pela exploração mais vasta de paisagens épicas, histórias líricas de personagens do velho oeste, e substância inegavelmente atestada às míticas colaborações entre Sergio Leone e Ennio Morricone, simplesmente não há como ignorar tamanha cinemática aqui testemunhada.
World’s Blood merece todo o seu louvor, merecendo também ser mencionado como um dos melhores discos de black metal de 2018. No entanto, A Romance with Violence chega não para o destronar, mas para o ultrapassar de uma forma incontestável e triunfante. Para além de expor todo o poderio expansivo sonoro e lírico da banda, esteticamente não há ninguém que o consiga desta forma. Como temos vindo a testemunhar, a Europa está completamente saturada do maneirismo do Viking, ao ponto de já mal se conseguir levar a sério. Sejamos honestos, a approach ao cowboy e ao Old American West também pode assustar e muito, mas facto é que Wayfarer conseguiram adotar essa mesma narrativa sem perder uma gota de legitimidade e seriedade. Agora, facilmente identificando as influências da banda provenientes do black metal americano que tem vindo a crescer ao longo desta última década – Panopticon, Falls of Rauros, Wolves in the Throne Room, Krallice –, chegou a altura de cimentar Wayfarer ao lado dos nomes acima mencionados. Em caso de discordância, encaminhe-se para este grandioso novo registo da banda.