Riffs betuminosos inflamados por uma aura de feedback incandescente moldam a sonoridade pantanosa destas almas sulistas. Oriundos da Florida, mas arremessados para longe desse berço que albergou o sludge amigável de uns (embrionários) Kylesa e Baroness, Weltesser acartam o peso de uma realidade farpada que mais facilmente traduziria o desalento espiritual de Eyehategod.
A banda, composta pela profana trindade de Ian Hronek (baixo), Mike Amador (bateria) e Nate Peterson (guitarra e vocais) – os primeiros, emprestados dos Rotting Palms - renega o groove de bandas como Electric Wizard em prol da viscosa animosidade de Burning Witch, conjurando acordes que arrastam meia hora de atmosfera sentenciosa sete palmos abaixo da esperança.
Crestfallen, primeiro registo da banda após lançamento em 2015 de uma demo já absorvida pela avidez dos colecionadores, inclui dois dos temas da mesma (“Rats” e “Living to Try”), conferindo-lhes uma crepuscular dimensão acentuada sobretudo pela natureza da produção que, de uma forma turva e hermética, amplia, por um lado, a sensação claustrofóbica veiculada pelas composições, mas, por outro, subtrai coerência em termos da articulação das suas componentes.
O feedback, segregado pelas oitavas cavernosas de “Regret” promiscui a banda na familiaridade de EHG ou de Sleep, com as vocais de Nate Peterson a serem vomitadas como um ato forçado de contrição. As vocais, exasperadamente maculadas, perdem, contudo, parte da amargura que poderiam exprimir, graças a uma produção que, de forma lamentável, lhes confere um caráter periférico, embrenhando-as na distância do seu eco. Tal torna-se notório no tema título, denunciando este a projeção amordaçada da angústia do vocalista. “Guide”, num registo ligeiramente mais harmónico, faz-nos balançar numa cadência stoner conduzida por retumbantes notas de baixo, não desenquadradas da discografia de Church of Misery. Os acutilantes efeitos da distorção, explorados em larga medida ao longo do álbum, ganham particular predominância em “Living to Try”, com a dissonância da guitarra a ser manipulada como uma forma de elaboração sobre disfunções sonoras. A rudeza da distorção nasalada, imprimida por guitarras afinadas notas abaixo do convencional, muito se assemelha a bandas como Winter ou Autopsy, remetendo Crestfallen para os meandros do doom death metal dos anos 90. Continuando na veia da dissonância, “Terminal” abre com um riff pescado ao noise rock dos Sonic Youth, adicionando este subgénero a uma paleta de influências que de forma pautada se fundem numa mistura densa, áspera e grumosa.
Como primeiro registo, a banda avança no tabuleiro com uma jogada conservadora, acentuada por uma posição essencialmente revisionista, que, embora não chegue a acrescentar frestas de luz no negrume do género, constitui uma válida e sombria adição.
Neste sentido, apesar dos Weltesser (“comedores do mundo”) não possuírem, ainda, envergadura para tragar o mundo com uma só dentada, conseguem exibir mandíbulas suficientemente robustas para lhe conferir umas incisivas mordidelas como aperitivo.