Para a terceira entrada na sua discografia, os Yautja decidiram entrar de pé a fundo, tornando o trabalho prévio, que por si só já era intenso, num novo projeto cuja palavra já pouca força tem para o descrever. O grupo, a consistir do baixista/vocalista Kayhan Vaziri, guitarrista Shibby Poole e baterista Tyler Coburn (Thou, Mutilation Rites), apresenta The Lurch, álbum que dá por finalmente concluídos estes seis longos anos de espera por novo material do trio de Nashville, celebrado ainda por mais com a etiqueta da lendária Relapse Records. Na capital do Tennessee, onde eles mesmos estão baseados, os Yautja afirmam existir com uma prevalência de estilos country e pop – ou, essencialmente, de tudo o que se demonstre tendencialmente comercial no mundo da música. E se por lá pouco se faz por som que enalteça o grindcore, hardcore, sludge e death metal, os Yautja trazem peso mais que suficiente para distribuir pelas aldeias todas.
The Lurch começa em nota alta, com faixas como “A Killing Joke” e “The Spectacle”, que de imediato oferecem um pico de energia derivado tanto das polirritmias soberbas de Coburn na percussão como das progressões de acordes arrebatadoras de Poole na guitarra ou da performance vocal de Vaziri, tão gutural como colérica. Vaziri estabelece desde logo que não há espaço para meias-palavras em The Lurch. Escusa-se o subterfúgio, e, como tal, a lírica do álbum confronta diretamente os podres da sociedade do ponto de vista do próprio grupo. Em prol desta abordagem, saem versos curtos, mas arrojados em crítica da futilidade e consequências corrosivas dos conflitos armados na modernidade, como se verifica com “Burning bodies / Can’t look away / Sea of ash / Billows and sways” ou então “Vain fraternity / Childish hope / Life’s blood / A killing joke”.
Mais adiante, “Undesirable” surge quase como um indispensável corta-fogo perante as três faixas anteriores, nas quais o ritmo incessantemente acelerado pouco tempo nos dá para recuperarmos o fôlego. A faixa é dominada por uma cadência mais lenta, tal como o bom do sludge o predestinou, mas a agressividade não desvanece nem por um segundo. No entanto, pouco tempo perdura até que o fogo com que o álbum se inicia resplandeça uma vez mais com devido fulgor, pois no preciso segundo em que “Tethered” entra em ação, retoma-se o assalto aos sentidos. Em semelhança à temática decorrente em “Wired Depths”, também aqui se faz denotar a alienação e controlo cada vez mais próximo do absoluto que as tecnologias digitais tendem a reter sobre o indivíduo: “Pale stone of reflection / Casts doubt on being / Dark path to perfection / Charge up to be seen”.
“Clock Cleaner” retarda novamente o compasso, apesar da tenacidade se manter imutável, e “Catastrophic” sucede sem que o som se desvaneça entre faixas. Rapidamente se fazem notar as combinações complexas de tons metálicos afiados à medida que Coburn vai proporcionando instrumentações dominadas pelo carácter singular de cada um dos seus pratos. “The Weight” segue nas passadas da sua contígua, enquanto o título do álbum se reitera nas palavras de Vaziri: “Lurch / Leap forward and sleep at night / Lurch / Come undone, arrange for shackled sight”. A fechar o álbum temos ainda “Before The Foal”, onde é explorada uma progressão mais inusual do que nas restantes faixas, sem, contudo, deixar cair a barra em termos de inovação e habilidade técnica. Perto do seu fim, ruído de rádio começa a refrear o caos sónico que previamente reinava. Assim se dá por terminado o grande retorno dos Yautja àquilo que melhor sabem fazer.